Estátua é bom, mas depende de quem e de onde. Há dias, Alvaro Costa e Silva torpedeou com razão a ideia de jerico (perdão, jericos) de se erigir uma estátua de Silvio Santos no histórico bairro carioca da Lapa. Uma história de que Silvio não faz parte, porque ele só nasceu lá e, pouco depois, foi para São Paulo. A partir daí, estendeu sua camelotagem ao rádio e à televisão, tornando-se o potentado que, em vida, era um homem de negócios e, morto, transmutou-se em gênio da televisão.Se Silvio for estátua na Lapa, teremos de fazer campanha por um busto do Chacrinha ao lado do Borba Gato.
Se Silvio merecer estátua será mais pela esperteza. Durante 30 anos, acusou o Ibope de favorecer a TV Globo nas pesquisas de audiência, motivo pelo qual, dizia, não se deixava pesquisar por ele e só confiava em empresas estrangeiras. Mas não era bem assim. Silvio usou os serviços do Ibope durante todo aquele tempo, pagando mensalmente pelo serviço —apenas nunca assinou um contrato. Para seu desgosto, os índices dos institutos de fora sempre confirmavam os do Ibope.
E nunca ficou bem explicado por que, nos anos 1980, durante o governo Figueiredo, Silvio ganhou a concorrência por um canal de televisão derrotando o Jornal do Brasil e a Abril, então os grupos de comunicação mais influentes do país. Algo a ver, talvez, com o peso dessa influência, que os militares não gostariam de ver em veículos mais independentes?
Carlos Drummond, Clarice Lispector e Nelson Rodrigues têm estátuas no Rio. Não porque nasceram nele —nenhum deles nasceu no Rio—, mas porque no Rio construíram suas monumentais obras. E, se é justo que Ary Barroso, Dorival Caymmi e João de Barro já tenham suas estátuas no Rio, por que não Carmen Miranda, a quem eles praticamente deveram suas carreiras?
Sim, Silvio nasceu no Rio. Mas gato que nasce em forno não é biscoito.
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