Sob pressão para popularizar a sua candidatura a prefeito de São Paulo, o comunicador José Luiz Datena (PSDB) se nega a pedir voto, diz que está com saudades da televisão e até sugere para os fãs não titubear caso encontre "um candidato melhor".
"Não estou pedindo voto para ninguém, não. Vale o seu carinho, o seu carinho é melhor que tudo", afirmou Datena enquanto apertava a mão de um homem, na Vila Nova Cachoeirinha, zona norte paulistana, nesta quinta-feira (29).
Na mesma passeata, ele foi abordado por uma telespectadora do programa Brasil Urgente, da Band, e que, sem saber da aventura política do apresentador, pediu o seu retorno à TV. "Eu também estou com saudades [da televisão]", respondeu Datena.
A mulher, então, quis saber o número do apresentador nas urnas. "É 45, né, Zé?", perguntou Datena para José Aníbal, candidato a vice-prefeito e presidente municipal do PSDB.
O comunicador teve que deixar a apresentação diária na Bandeirantes no final de junho, por exigência da legislação eleitoral. "Mas o meu filho está lá, o Joel, assistam."
Em quase duas semanas de caminhadas por comércios populares, Datena demonstra mais entusiasmo com a reação do público ao invés do sucesso eleitoral. "Estou parecendo o Silvio Santos aqui, de tão querido", afirma ele.
Em várias abordagens, ele é convidado a repetir seus bordões, como "só no nosso", "me ajuda aí" e "cadê as ibagens?". Também virou praxe brincar com torcedores rivais do Corinthians.
No Mercado Municipal da Lapa (zona oeste), ele entrou em boxes de comerciantes para selfies e ligou para familiares de funcionários.
Na Vila Nova Cachoeirinha, um homem pediu para o candidato do PSDB posar ao lado de um cartaz com a logomarca de uma loja de roupas, na avenida Parada Pinto. "Ah, você quer fazer merchan, né. Eu faço", falou Datena para o vendedor.
Nas caminhadas, o tucano veste calça jeans e jaquetas, não dispensa o óculo de sol —raramente repete os modelos. A postura de de outsider ou "diferente de tudo que tá aí", no entanto, deixa os demais políticos do PSDB apreensivos.
Na caminhada, o próprio Aníbal aconselhou Datena a clamar pelos votos. O apresentador ou ignora ou não escuta. "Voto, você não tem que pedir. As pessoas votam em quem acredita", contrapôs Datena, em entrevista nesta quinta-feira.
"Se não quer segurança, se não quer segurança alimentar, se não quer saúde, continue votando nesse cara que está aí", prosseguiu ele, em referência ao prefeito Ricardo Nunes, do MDB.
Na Vila Nova Cachoeirinha, Aníbal ficou na expectativa após uma senhora insistir que elegeria o tucano, mesmo com o seu desapego.
"Alguém filmou isso? Ele disse que não está pedindo voto, mas o Datena é o prefeito dela", questionava Aníbal para equipe de filmagens da campanha. "Isso é legal ter [na propaganda]", reiterou Aníbal.
Apresentador de televisão há quase 30 anos, Datena lida com dificuldades para embalar nas pesquisas de intenções de votos —ele está atrás de Guilherme Boulos (PSOL), Nunes e Pablo Marçal e vê Tabata Amaral (PSB) se aproximando.
Segundo o último Datafolha, publicado dia 22 de agosto, o tucano oscilou de 14% para 10% das intenções de votos. O principal desafio da campanha, hoje, é torná-la conhecida, segundo a reportagem apurou com tucanos.
"Eu não gosto de pedir votos. Todo mundo insiste para que eu peça votos, inclusive gente da minha equipe", diz o tucano.
"Se de repente a população quer que a situação continue do mesmo jeito que está, com nem 40% das metas cumpridas [do Programa de Metas estabelecido por Bruno Covas], então continua votando nesse cara aí [Nunes]", completa.
Datena também já orientou assessores e voluntários a entregar de forma espontânea materiais publicitários, como santinhos e bandeirinhas.
"Eu tentei entrar com dignidade nessa campanha e pretendo sair com dignidade, eleito ou não. Baixar o nível, fazendo cortes para redes sociais como faz o Pablo Marçal, não. Isso é absolutamente antidemocrático", diz o tucano.
"Quem achar que eu sou um cara digno, capaz e tenho condição. Há mais de 26 anos eu bato de frente com o crime organizado, fui o primeiro a dizer que ia ter PCC, que ia ter Comando Vermelho e me chamavam de sensacionalista", rebate o comunicador.
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