Em contraponto ao conteúdo sensacionalista e assumidamente picareta das campanhas, o cabo eleitoral da moda são os pets. No país que deu votos de protesto para uma rinoceronte e um chimpanzé —Cacareco na eleição paulistana de 1959 e Macaco Tião na carioca de 1988—, a repórter Fernanda Alves mostrou que os animais de estimação participam de agendas na rua e até de debates. E, claro, são presença incessante nas redes.
É a tática da fofura contra a da baixaria. No Rio, o candidato a prefeito Marcelo Queiroz (PP) tem na pauta animal sua maior bandeira, a ponto de promover "cãominhadas" em Copacabana. Tarcísio Motta (PSOL) é um orgulhoso pai de pets (um gato e um cão). Em São Paulo, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) abriga quatro cachorros da raça spitz e Tabata Amaral faz questão de lembrar que adotou sete animais.
Enorme sucesso de Eduardo Dussek na década de 1980, o provocativo "Rock da Cachorra", se lançado hoje, cairia no vazio. Ou pior: Dussek —que se esgoelava cantando "Troque seu cachorro por uma criança pobre"— seria cancelado sem perdão.
No Brasil, cerca de 150 milhões de cães, gatos, peixes, aves, répteis e pequenos mamíferos vivem em ambientes domésticos. Pense nesse número transformado em votos. Há no Congresso a bancada deles, menos badalada que a da Bíblia, a da bala e a do boi, embora numerosa e atuante na defesa da causa. A regulamentação da reforma tributária prevê redução de 60% das alíquotas sobre medicamentos e de 30% para planos de saúde e consultas veterinárias.
Expor os bichinhos é uma estratégia como outra qualquer. Questionável, mas mais criativa que insistir em usar nas urnas os nomes de Lula e Bolsonaro —centenas de candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador, segundo o TSE, ainda estão nessa. E mil vezes mais agradável aos olhos que o cover de Milei, com peruca e costeletas falsas, que tenta a eleição em Florianópolis.
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