BRASÍLIA
Sob o tumulto grosseiro produzido por Pablo Marçal, há um fio capaz de torná-lo uma figura competitiva na eleição de São Paulo. Nas profundezas da campanha, dois movimentos simultâneos podem levar sua candidatura longe: o esforço para deslocar Ricardo Nunes e a fabricação de rivalidades com Guilherme Boulos.
Marçal preparou o terreno à sua maneira. Ofereceu pirotecnia e ofensas bizarras como cartões de visitas, atraindo atenção num momento de relativo desinteresse com discussões áridas sobre a cidade. Formou uma base e criou confusão suficiente para que toda a disputa pareça um circo, reduzindo a desvantagem comparativa de sua insensatez.
Foi o impulso inicial. Antes dos primeiros debates, o ex-coach tinha 14% no Datafolha. Para chegar ao segundo turno, ele tenta ocupar terrenos cobiçados por Nunes e ultrapassar o prefeito, que aparecia com 23%.
Embora tenha a consistência ideológica de uma paçoca, Marçal procura um caminho pela direita. O flerte recíproco do ex-coach com o bolsonarismo ameaça a Nunes porque limita seu espaço de crescimento e amplia a crise de identidade de um prefeito que tem uma imagem pouco nítida na cabeça do eleitor.
O risco que Marçal enfrenta é um potencial acúmulo de rejeição, tanto pela identificação com Bolsonaro como pelo próprio desequilíbrio. O ex-coach já alcançou uma taxa relativamente alta (30%) para um candidato que não é tão conhecido (62%).
Numa disputa em dois turnos, existe a chance de contornar o problema. Com a pista congestionada, seria possível avançar com menos de 30% dos votos. Daí por diante, um confronto direto reorganizaria os sentimentos de rejeição. Marçal espera usar uma plataforma agressiva contra a esquerda para enfrentar Boulos, que mostra fôlego duvidoso em simulações de segundo turno.
Marçal fisga eleitores como busca seus clientes, com a venda de ilusões e distrações baratas. Joga um jogo muito lucrativo para a banca e ruinoso para os demais. É um político destes tempos de tigrinhos e afins.
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