Já se vão 25 desde a morte de Gérard Lebrun (1930-1999), o orientador da pós-graduação em filosofia que eu nunca concluí. Lebrun faz falta.
Dá para saber que um pensador é certeiro quando os textos que ele produziu para consumo imediato continuam relevantes décadas depois. É o que se vê em "A Vingança do Bom Selvagem", uma coletânea de artigos que Lebrun escreveu para publicação em jornais nos anos 1980.
Lebrun gostava de dizer que era de direita, o que o tornava uma singularidade no departamento de filosofia, tanto o da USP como o de Aix-en-Provence, as duas universidades em que lecionava, onde quase todo mundo era de esquerda. Seu posicionamento político, porém, não fez com que ele perdesse o respeito de colegas. Pelo contrário, Lebrun era dos poucos que transitava bem em todos os grupos do departamento. Vemos em "A Vingança..." que suas inclinações ideológicas tampouco o impediam de pensar bem.
Embora nutrisse verdadeiro horror ao comunismo revolucionário, Lebrun traça um perfil quase elogioso de Che Guevara, sem obviamente deixar de criticá-lo —severamente. O fato de votar em Chirac jamais o afastou de Michel Foucault, uma espécie de pai espiritual da esquerda pós-marxista, com o qual tinha inquebrantável relação de amizade. O livro traz quatro artigos sobre Foucault.
Mais importante, seus pendores políticos não o impediam de criticar pensadores de direita. É o que constatamos nos dois textos sobre Friedrich Hayek. Esse autor é um caso paradigmático porque é tratado como oráculo por seus seguidores à direita e solenemente ignorado pelo pessoal da esquerda. Lebrun mostra que o austríaco tem ideias que merecem ser discutidas seriamente, sem adesão ou rejeição absolutas. Isso é importante nesse período de polarização afetiva que vivemos.
Em tempo, Lebrun foi comunista —até 1956, quando surgiram inegáveis evidências empíricas de que o socialismo real tinha um problema.
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