Há muitos modelos desenvolvidos para fazer previsões sobre o que vai acontecer nos próximos anos ou décadas por efeito da acumulação na atmosfera de gases de efeito estufa —GEE. Em comum, todos apontam para o aquecimento global, em maior ou menor grau, dependendo principalmente do cenário adotado para as futuras emissões de GEE.
A humanidade seguirá emitindo cada vez mais ou passará a emitir cada vez menos? Na segunda alternativa, qual será a velocidade de decaimento das emissões?
Há diferenças entre os modelos. Para uma mesma hipótese de acumulação de GEE na atmosfera, as previsões de temperatura podem variar de 2ºC a 6ºC. A divergência ocorre porque há diferentes interpretações de fenômenos complexos, que podem resultar em efeito positivo ou negativo para o controle das mudanças climáticas. Menciono apenas três desses fenômenos.
Primeiro, com o aumento da temperatura, aumenta também a quantidade de vapor de água retido na atmosfera, que é o principal GEE. Ou seja, trata-se de um fenômeno que acelera as mudanças climáticas.
Por outro lado, há incerteza sobre como a formação de nuvens é afetada pela elevação tanto da temperatura quanto da umidade do ar. Provavelmente aumentará a nebulosidade e, consequentemente, a quantidade de radiação solar refletida antes de atingir a superfície da Terra, desacelerando as mudanças climáticas. Mas não há certeza porque ainda é cientificamente difícil modelar a dinâmica das nuvens para prever com exatidão o que ocorrerá.
Segundo, se o aquecimento causar o derretimento do gelo permanente de regiões frias, a mudança climática será acelerada tanto devido à menor reflexão da radiação solar pela brancura do gelo quanto pela eventual liberação dos GEE armazenados em solos anteriormente congelados (permafrost).
Terceiro, a mudança do regime das chuvas pode transformar florestas tropicais em savanas (menor absorção de GEE) e causar rachaduras nos solos durante secas prolongadas (maior emissão de GEE).
Para além de fenômenos naturais difíceis de modelar, há os imprevisíveis, como as erupções vulcânicas. Em geral, causam mortes e variados malefícios. Porém, sob o estrito ponto de vista de controle do aquecimento, podem ser benéficos.
Em 1991, o vulcão do monte Pinatubo (Filipinas) injetou aerossóis na alta atmosfera, que passaram a refletir a radiação solar, causando um resfriamento global de 0,5ºC ao longo de dois anos (efeito positivo). Esse evento natural inspirou alguns cientistas a propor uma solução de geoengenharia para imitar a natureza: espalhar de forma controlada aerossóis na estratosfera.
Trata-se de uma proposta relativamente simples de ser implementada e de baixo custo. Mas esbarra em pelo menos três dificuldades.
Primeiro, como chegar a um acordo na comunidade das nações sobre qual seria a dose ideal de aerossóis? Alguns países vão preferir mais resfriamento e outros menos.
Segundo, como realizar um experimento gradual e com grande controle para evitar eventuais catástrofes globais derivadas de fenômenos naturais ainda não mapeados pela ciência?
Terceiro, como evitar que a geoengenharia seja vista como a panaceia para controle das mudanças climáticas e arrefeça a cruzada contra os combustíveis fósseis?
Diante de tantas incertezas, o melhor é seguir a oração de são Francisco de Assis: "Senhor, dai-me força para mudar o que pode ser mudado… Resignação para aceitar o que não pode ser mudado… E sabedoria para distinguir uma coisa da outra".
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