Lula vem dando sinais de que está preocupado com as pesquisas que mostram uma piora na avaliação de sua administração. O movimento não surpreende. É natural que a popularidade se desgaste à medida que transcorre o mandato. Dada a tendência global de mau humor dos eleitores para com seus dirigentes, Lula até que não está mal. Outros líderes de democracias, como Biden, Scholz, Trudeau e Macron, vivem situação bem pior.
Há, porém, um detalhe que justifica a inquietação de Lula. No Brasil, quando um presidente é eleito, ele se programa para gastar mais no final do mandato, a fim de produzir um pico de popularidade que amplie sua chance de recondução. Mas Lula alterou esse roteiro. Dadas as circunstâncias do último pleito, considerou, possivelmente com razão, que seu governo precisaria exibir resultados positivos já no primeiro ano. Antes mesmo de assumir, negociou com o Congresso a PEC da Transição, que lhe deu R$ 145 bilhões extras para utilizar no início da gestão.
Os resultados apareceram. A renda das famílias aumentou, a pobreza diminuiu e o desemprego caiu. Não foi, é claro, só a PEC da Transição. Os ventos econômicos favoráveis e a dinheirama que Bolsonaro distribuiu no final de sua gestão também tiveram seu papel.
O problema de Lula é que o quadro econômico benfazejo não se converte em avaliação positiva. É possível que isso ainda venha a ocorrer, mas também é possível que estejamos diante de um fenômeno mais estrutural, ligado à inflação global, à polarização ou a um Zeitgeist mais impaciente. E, por ter apostado alto na PEC da Transição, não resta muito espaço fiscal para o governo ampliar os gastos.
Um Congresso mais guloso e uma inapetência geral para cortar programas ineficientes tampouco ajudam. Tudo isso aumenta o risco de Lula, a exemplo de Bolsonaro, cair na tentação de sacrificar as contas públicas para buscar o tradicional sprint final de popularidade.
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