Dois personagens, com trajetórias díspares, uniram-se para cometer um crime que explica os meios empregados para se fazer política –ou certo tipo de política que se impôs nos últimos anos no país.
A folha corrida de Walter Delgatti Neto, o Vermelho de Araraquara, mostra uma vida atribulada, com passagem pela polícia por tráfico de drogas, estupro, falsificação de documentos, golpes em instituições financeiras. O hacker ficou famoso ao invadir celulares de autoridades da Lava Jato, revelando a parcialidade da operação e ajudando Lula, hoje presidente da República, a se livrar da prisão. Delgatti é o Vermelho em função da cor do cabelo, não há conotação ideológica no apelido, mas naquele momento ele foi considerado um herói das esquerdas e, em especial, do PT, embora sempre tenha negado qualquer motivação partidária.
No caminho do hacker estava uma parceira do barulho. Fundadora do grupo Nas Ruas, Carla Zambelli ganhou notoriedade em 2013 com as jornadas de junho. Participou das manifestações pelo impeachment de Dilma, elegeu-se deputada na onda bolsonarista, acumulou processos por divulgar fake news. Na véspera do segundo turno de 2022, correu de arma na mão atrás de um homem.
Em depoimento à PF, Delgatti disse ter recebido um pedido de Zambelli para invadir uma urna eletrônica a fim de demonstrar a fragilidade do sistema. Não conseguindo, ele entrou no Conselho Nacional de Justiça e incluiu dados falsos, como um mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes. O serviço lhe rendeu R$ 40 mil, além de uma conversa íntima com Bolsonaro, que lhe abriu as portas do Ministério da Defesa.
A PGR acaba de denunciar a deputada e o hacker pelos crimes de invasão e falsidade ideológica. Réu confesso, Delgatti está preso. Reeleita com a terceira maior votação do país pelo sistema que gostaria de abolir, Zambelli está sob proteção da Câmara.
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