O pastor batista Ed Rene Kivitz é uma pedra no sapato do bolsonarismo evangélico. Ele é ao mesmo tempo um erudito, capaz de debater qualquer tema à luz da Bíblia e em alto nível, e um polemista. "Quem não incomoda, não faz a diferença", ele argumenta. Qual papel, então, está reservado a ele neste momento em que o campo evangélico flerta com o extremismo de direita?
Ed é o nome mais conhecido entre pastores que rejeitaram publicamente o bolsonarismo. Ele é um comunicador carismático e mantém um decoro ético que pastores progressistas e de esquerda muitas vezes não têm.
Ideologicamente, ele é ligado à Teologia da Missão Integral que, assim como a Teologia da Libertação, associa o cristianismo à militância social. E sem ter se pentecostalizado, ele conduz cultos exuberantes do ponto de vista estético, principalmente pelo uso da música acompanhando cultos. Esses componentes o tornaram uma liderança com influencia nacional: ele tem hoje 400 mil seguidores no Instagram e mais 263 mil no YouTube.
Ed influencia o campo evangélico mesmo somando apenas uma fração da audiência de pastores bolsonaristas como Claudio Duarte. Sua comunidade de fé, a Igreja Batista da Água Branca (Ibab), atua na formação de pastores e, mais recentemente, ela se tornou a principal alternativa a oferecer cultos online para desigrejados descontentes com a politização excessiva de suas igrejas.
Além disso, Ed decidiu se expor mais falando sobre política. Ele manteve uma posição conciliadora no debate público mesmo depois de ser violentamente cancelado em um ataque de pastores fundamentalistas e de ser excluído da Ordem dos Pastores Batistas.
Mas nas últimas duas semanas ele mudou de estratégia e abandonou a neutralidade: declarou que não tinha a obrigação de ser imparcial com racistas, fascistas e golpistas, que não convidaria lideranças como o deputado Nikolas Ferreira para pregar na Ibab, e dissecou criticamente a Teologia do Domínio que inspira o discurso de pastores bolsonaristas.
Somando prós e contras, Ed Rene continuará a influenciar o debate político entre religiosos, mas de forma modesta. Novos ataques devem levar um intelectual como ele a se posicionar cada vez mais próximo do campo progressista. Ao fazer isso, ele será celebrado por artistas e influenciadores de esquerda, como acontece com o pastor Henrique Vieira. Mas suas falas, que já não chegam à massa pentecostal, continuarão afastando os evangélicos moderados, que rejeitam a instrumentalização de suas igrejas, mas não querem relativizar a pauta de costumes.
E assim o pensamento fundamentalista continuará atuando para descreditar e isolar quem, no campo evangélico, se contrapuser a ele.
spyer@uol.com.br
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