Nicolás Maduro promulgou a lei que "cria" o estado de Guiana Essequiba, em porção do território guianense que é reivindicada por Caracas. Não creio que o governante venezuelano chegará, pelo menos não por enquanto, às vias de fato.
É verdade que as Forças Armadas da Guiana não são páreo para as venezuelanas. Falamos de um efetivo de apenas 3.400 homens contra mais de 120 mil do vizinho beligerante. Mas a floresta é. Para de fato ocupar o território reclamado, as tropas venezuelanas precisariam ou fazer um complicado desembarque anfíbio em terreno para lá de inóspito ou então fazer um desvio passando pelo Brasil, o que Lula não autorizaria. Em qualquer caso, uma saída militar implicaria novas sanções contra a Venezuela e agravaria o isolamento diplomático do regime.
Não dá para descartar a possibilidade de os EUA, a pedido da Guiana, despacharem um porta-aviões para a região, para proteger o país agredido. Aí a própria vantagem militar da Venezuela, cujo Exército deve estar bem deteriorado por anos e anos de crise, ficaria ofuscada.
É provável, portanto, que Maduro, dando um novo significado à expressão "a imaginação no poder", se limite a fingir que incorporou Essequibo. Se até alguns anos atrás um ditador simulando ter conquistado o país vizinho não passaria de enredo de comédia B, vivemos hoje num mundo em que fake news e outras modalidades de versões desvinculadas de fatos ganharam tal proeminência que é possível que a estratégia funcione. Serviria para fazer com que os venezuelanos que já apoiam Maduro se engajem no processo eleitoral. O pleito está marcado para julho.
Acho que o gesto de Maduro encerra ainda um não muito sutil recado a Lula, que vem esboçando um afastamento de Caracas. O venezuelano está dizendo "não me abandone, porque ainda sou capaz de criar instabilidades regionais". Envolver-se muito proximamente com ditadores é dor de cabeça assegurada.
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