O presidente do Brasil de mãos dadas com o presidente da França saltitam pela mata da Ilha do Combu; num barco ao pôr do sol, miram o horizonte com ternos sorrisos. As imagens, que parecem saídas de um conto de fadas amazônico, servem bem à propaganda política de cunho ambientalista, mas escondem o descaso histórico dos governos locais e federal com a região.
No ranking dos cem maiores municípios classificados por indicadores de saneamento básico, Belém ocupa a 93ª posição, com apenas 19,88% da população ligada à rede de esgoto e ínfimos 2,38% de dejetos tratados.
A capital do Pará —cenário das idílicas fotos de Lula e Macron na recente visita do mandatário francês— sediará a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-30) no ano que vem.
Os alertas de desmatamento na amazônia caíram 29,7% em fevereiro, na comparação com o mesmo período de 2023. O problema é que, ainda assim, é o maior índice registrado desde o início da série histórica do sistema Deter do Inpe, em 2016. No mesmo mês, o Copernicus, observatório europeu, apontou que a emissão de carbono por queimadas no Brasil foi a maior desde 2003.
Na Terra Indígena Yanomami, entre 2022 e 2023, o número de garimpeiros caiu de 20 mil a 3.000, mas o de indígenas mortos foi de 343 para 363. Mesmo considerando a provável subnotificação anterior, o dado é vexatório. Enquanto isso, em outras regiões da Amazônia Legal, como na Terra Indígena Sararé, a área de extração ilegal de ouro explodiu de 36 hectares em 2022 para 252,3 hectares até outubro de 2023.
Saneamento precário, desmatamento, garimpo e infração de direitos dos povos indígenas são problemas crônicos da amazônia que exigem políticas contínuas, interdisciplinares e de longo prazo.
Houve, por óbvio, descalabros sob Bolsonaro. Mas o PT governou o país por 14 anos até a atual gestão, e a realidade cruel que assola a região permanece, encoberta sob a narrativa de um conto de fadas amazônico.
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