A empresa de energia limpa finlandesa Polar Night Energy desenvolveu uma bateria de areia que armazena calor por meses antes de redistribuí-lo.
A areia é esquentada por eletricidade, que pode vir da rede elétrica municipal ou, ainda melhor, de um sistema eólico e/ou solar conectado.
O calor fica armazenado até que chegue o momento de exportá-lo em forma de água quente, ar quente ou vapor, em temperaturas que podem chegar a 400°C.
Nessa primeira versão, o sistema é especialmente útil para aquecer casas num país gelado como a Finlândia ou fornecer vapor para utilização em indústrias. Atualmente esses processos usam combustão de óleo ou gás.
Segundo a Polar Night Energy, em 2030 a tecnologia poderá poupar a emissão de 100 milhões de toneladas de dióxido de carbono por ano na atmosfera, o que equivale hoje ao dobro das emissões da cidade de Nova York ou a 3% das emissões da União Europeia.
A empresa finlandesa agora busca uma forma de transformar o calor retido na bateria de areia em eletricidade, ampliando assim as possibilidades de uso.
"Uma solução para converter o calor novamente em eletricidade, ou seja, uma solução eletricidade-calor-eletricidade, em vez de apenas eletricidade-calor-calor, está em desenvolvimento. Nossa equipe de pesquisa e desenvolvimento está trabalhando nos desafios, mas isso levará alguns anos", afirmou à Folha a diretora de operações, Liisa Naskali.
A Polar Night Energy acaba de fechar um contrato para a construção de sua segunda bateria comercial, na cidade de Pornainen, a nordeste da capital Helsinque. Ela aquecerá edifícios como a Escola Geral, a Câmara Municipal e a biblioteca da cidade.
Essa nova bateria, com 13 metros de altura e 15 metros de largura, será preenchida não com areia, mas com 2.000 toneladas de pedra-sabão triturada, um subproduto da produção de lareiras de retenção de calor.
"Ela pode armazenar até 100 MWh de energia térmica, o que a torna cerca de dez vezes maior do que a bateria de areia já em operação, em Kankaanpää, desde 2022", diz a empresa. "Já nossa planta-piloto está conectada à rede de aquecimento da cidade de Tampere."
"Ainda usaremos areia para outros projetos", diz Naskali. "A pedra-sabão tem propriedades diferentes da areia e é melhor para algumas aplicações, enquanto a areia é melhor para outras."
"Escolhemos sempre o meio de armazenamento de acordo com a necessidade do cliente. Examinar e testar diferentes materiais é importante para nós. A sujeira de outra pessoa pode ser nosso meio de armazenamento de energia térmica."
Seja de areia ou de pedra-sabão, esse conteúdo pode permanecer quente por meses, se necessário. Mas segundo estudo feito in loco na bateria de Kankaanpää, o ideal é recarregá-la em ciclos de cerca de 2 semanas.
O acumulador de calor tem sua melhor performance quando é carregado e descarregado de 20 a 200 vezes por ano, dependendo da aplicação.
As aplicações potenciais para a bateria de areia são versáteis, segundo Naskali. Cerca de 36% de todo o calor de processos industriais está na faixa de temperatura entre 60°C e 400°C, o que abrange o sistema da Polar Night Energy.
"Exemplos de setores industriais relevantes são os serviços de energia, alimentos e bebidas, produtos químicos, papel e celulose, têxteis e vestuário, vidro, metal e aquecimento ambiente e urbano", diz a diretora.
Naskali concorda que, para ser usada em um país como o Brasil, a bateria de areia ganharia muito se resolvesse o problema da devolução do calor acumulado.
"Sim, a solução eletricidade-calor-eletricidade expandirá a quantidade de aplicações possíveis. Porém, a bateria de areia já poderia ser utilizada em países tropicais, quando há necessidade de calor para uso industrial ou, talvez, na distribuição centralizada de água quente nas cidades", diz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário