domingo, 24 de março de 2024

Moraes põe à prova direção da Câmara com ordem de prisão do deputado Brazão no caso Marielle, Francisco Leali, OESP

 As prisões do deputado Chiquinho Brazão (União-RJ) e de seu irmão Domingos foram anunciadas como resposta, ainda que tardia, à pergunta repetida há seis anos: “quem mandou matar Marielle Franco?” Se promete encerrar uma fase do caso na esfera investigativa, a ordem para trancafiar os Brazão, assinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), abre uma nova questão: como reagirá a Câmara dos Deputados com um dos seus acusado de assassinato?

O despacho de Moraes tem 13 páginas. Resume o calhamaço de 479 páginas produzido pela Polícia Federal. Mas o ministro do STF não tem poder para manter preso preventivamente um parlamentar sem que o Congresso dê seu aval. Com muitos desafetos no Parlamento, Moraes põe a direção da Câmara e até mesmo toda a Casa à prova.

O ministro Alexandre de Moraes determinou a prisão dos acusados de envolvimento no assassinato de Marielle Franco.  FOTO: WILTON JUNIOR/ESTADÃO
O ministro Alexandre de Moraes determinou a prisão dos acusados de envolvimento no assassinato de Marielle Franco. FOTO: WILTON JUNIOR/ESTADÃO Foto: Wilton Junior

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Por determinação legal, uma ordem de prisão de deputado precisa ser apreciada no plenário da Câmara. Antes disso, o próprio Chiquinho Brazão tem direito a apresentar sua defesa diante dos pares. Como está preso, só poderá subir a tribuna se Moraes deixar.

Da última vez que o ministro do STF pôs o plenário da Câmara na mesma situação o alvo era Daniel Silveira. Na ocasião, Moraes não deixou Silveira ir falar diretamente aos colegas. Permitiu apenas sua participação por videoconferência. Na época, Jair Bolsonaro era presidente e deputados aliados saíram em defesa do parlamentar. Mesmo assim, tendo o STF referendado a prisão, a maioria da Câmara preferiu não defender Silveira que tinha usado suas redes sociais para divulgar vídeo com ameaças e xingamentos a ministros do Supremo e fazer apologia ao Ato Institucional nº 5 (AI-5) e à ditadura militar. Silveira foi mantido preso com o voto de 364 deputados. Outros 130 o queriam ver solto.

Não se tem notícia de que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), tenha atuado para impedir ou retardar o curso natural do processo. Mas ao final da sessão de votação, Lira deixou claro que o Parlamento não corta a carne facilmente. “A sessão deixou nenhum deputado em clima de felicidade. É muito sacrificante para todos”, declarou em fevereiro de 2021.

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Daniel Silveira era bolsonarista de primeira linha e privava do direito de ir ao Palácio do Planalto e ao Alvorada encontrar-se com o então presidente. Chiquinho Brazão, ainda que parlamentar do mesmo estado da base eleitoral de origem da família Bolsonaro, está mais para um parlamentar de baixo clero.

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Não ter relevância no cenário político nacional costuma ser indicativo na Câmara de que os pares não se esforçam para proteger ou evitar a degola do colega. Aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, além dele mesmo, estão do lado de quem quer ver preso e condenado o responsável pela morte de Marielle. Ou seja, o vento que sopra na política, empurra a Câmara na direção de confirmar a decisão do ministro do STF.

Mas vale observar como reagirão bolsonaristas. O senador Flavio Bolsonaro (PL-RJ) já deu pistas de que o destino de Brazão está selado. Em rede social, o filho do ex-presidente comentou que a polícia teria dados “passos importantes para solucionar a morte de Marielle Franco”. E aproveitou para provocar a esquerda que queria ver a família Bolsonaro implicada com o assassinato.

Se for essa a indicação, teremos então bolsonaristas votando em sessão aberta para referendar uma ordem de prisão assinada por Moraes. Nesse cenário, ficariam suspensas as convicções desse grupo político sobre a conduta do ministro do STF, indicando a porta de saída da Câmara ao deputado acusado de matar a vereadora do PSOL.

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