A presença de pessoas vivendo em situação de rua é considerada uma questão para 93% dos moradores do centro da cidade de São Paulo, muito acima da média de 68% relatada nas demais regiões da capital, aponta pesquisa Datafolha sobre problemas e prioridades do município.
Em proporção semelhante, 90% dos residentes da região central paulistana indicam a presença de usuários de drogas como um transtorno no bairro onde vivem. O resultado também fica acima da média geral da cidade, que é de 74%.
Moradores de ruas e usuários de drogas também são, respectivamente, o primeiro e o segundo problema citado por mais residentes do centro.
Procurada, a prefeitura, em nota, afirmou que a cidade tem "a maior rede socioassistencial da América Latina, com mais de 25 mil vagas de acolhimento" em 380 serviços.
"A gestão municipal também desenvolve ações em parceria de diversas secretarias e com o governo do estado, como o Programa Redenção, que promove atenção à saúde, reinserção social e capacitação profissional a dependentes químicos em situação de vulnerabilidade", destacou também a gestão Ricardo Nunes (MDB).
Considerando moradores de todas as regiões, entre aqueles que afirmam haver algum problema no seu bairro, a presença de usuários de drogas é a terceira ocorrência respondida com mais frequência, ficando atrás dos buracos no asfalto (84%) e das quedas de energia (78%), diz a pesquisa estimulada –na qual o entrevistador apresenta alternativas para a resposta.
O Datafolha entrevistou 1.090 moradores com 16 anos ou mais em todas as regiões da cidade nos dias 7 e 8 de março. A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos, dentro de um nível de confiança de 95%.
A região central possui o maior contingente de pessoas vivendo nas ruas, segundo o Censo da População em Situação de Rua de 2021, o mais recente disponível. São 12.851 nessa condição registradas na área da Subprefeitura Sé, o que representa 40% do total da cidade.
Somente o território da Subprefeitura da Mooca (zona leste) se aproxima desse número, com 5.811 pessoas dormindo nas calçadas ou em albergues. O número representa quase 20% dessa população.
A dependência química é uma condição frequentemente relatada por pessoas em situação de rua. É na região central onde há três décadas existe a cracolândia, como é chamada a cena de consumo de crack a céu aberto. Atualmente, esses usuários estão instalados no bairro Santa Ifigênia. A prefeitura de São Paulo estima que aproximadamente 1.000 pessoas frequentam a cracolândia.
Embora a população da cidade associe frequentemente o consumo de drogas a moradores de rua, não é necessariamente a ausência de um lar que leva à dependência, segundo Laura Muller Machado, coordenadora do Núcleo População em Situação de Rua do Insper.
Quanto aos motivos que levam pessoas a viverem nas ruas, ela os atribuiu, principalmente, aos conflitos em família e à ausência de uma rede de apoio –parentes e amigos dispostos a acolher essas pessoas– nos centros urbanos mais desenvolvidos do país.
Quanto à escolha da região central como moradia, Machado explica que o agrupamento em uma localidade específica está relacionado à busca por segurança e recursos, como doações, em áreas com maior circulação de pessoas. "É uma questão de sobrevivência", diz.
Em ações conjuntas ou não, as forças de segurança do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e do prefeito Ricardo Nunes provocaram uma série de deslocamentos de dependentes químicos pela região central nos últimos meses.
Para a especialista do Insper, a solução para lidar com a questão da população de rua, sobretudo quando associada à dependência química, não pode ser direcionada por uma política pública única, como segurança pública.
Ela defende a criação de órgãos multissetoriais, com serviços de saúde e agentes facilitadores para o acesso aos cadastros que dão direito à inclusão em programas de renda e moradia dos governos.
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