O "negócio da década" acaba de completar um ano. E quem sopra as velinhas junto com ele é a maior crise enfrentada pelo sistema financeiro global desde 2008. Estou falando da compra do Credit Suisse pelo UBS, que aconteceu em março do ano passado, quando bancos começaram a quebrar mundo afora.
Com forte incentivo do governo suíço, o UBS acabou pagando US$ 3,6 bilhões em ações por um banco com um valor contábil tangível estimado em US$ 33 bilhões, mas que estava prestes a quebrar.
É uma daquelas jogadas que dificilmente será repetida e só foi possível graças às estranhíssimas condições de temperatura e pressão do mercado mundial.
A venda se deu em meio a uma crise bancária internacional, na qual as instituições tentavam entender como lidar com o aumento das taxas de juros e necessidade de liquidez de seus clientes.
Nos Estados Unidos, nessa mesma época, dois bancos regionais quebraram —Signature Bank e Silicon Valley Bank (SVB)— e um terceiro ficou pendurado —o First Republic Bank.
Com a crise nas manchetes, poderosos e analistas fizeram coro pelo endurecimento das regras e do controle sobre o setor bancário globalizado. Hoje, um ano depois, ganha uma ação do Banco do Brasil quem conseguir apontar uma mudança significativa no gerenciamento de risco do sistema financeiro global.
Com a consolidação de gigantes globais e internacionalização de instituições financeiras, seja por compra de operações locais ou por estruturas tecnológicas —como de fintechs— o "efeito borboleta" fica ainda mais presente.
Quando o mesmo cofre reúne todas as poupanças, aumentam as chances de um espirro na Papua-Nova Guiné desencadear um infarto no Chile.
Em entrevista divulgada pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), a economista italiana Lucrezia Reichlin lembra que não é possível prevenir crises bancárias em todas as circunstâncias, uma vez que a base do sistema financeiro moderno é permitir que bancos emprestem parte dos depósitos enquanto mantêm apenas uma fração deles como reserva. Os mecanismos servem para mitigar os riscos.
Entre os principais fatores que empurraram os bancos gringos para a quebradeira de 2023 estava o aumento das taxas de juros pelos bancos centrais.
O aperto monetário estrangula o abastecimento das empresas e leva a ondas de saques. Como é sempre bom lembrar, empresas são feitas de pessoas e estas, por sua vez, dificilmente ficam de fora de uma nova onda de pânico.
Na última semana, o banco central dos EUA (Fed) anunciou prever três cortes de juros por lá ainda neste ano, desencadeando uma onda de alívio no mercado.
Por aqui, pelo menos mais um corte de 0,5 ponto percentual está garantido (os outros subiram no telhado, por enquanto). O que significa alívio para quem busca crédito para movimentar empresas e consumo.
Com a iminência do aumento da concessão de empréstimos, cabe ao investidor ficar de olho em como as instituições estão avaliando o risco tomado. Ter clareza sobre as ferramentas, estrutura e metodologia da análise de risco poderá, lá na frente, te tirar de uma fria: sofrer pela dívida dos outros.
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