sexta-feira, 22 de março de 2024

Brasil tem 9,6 milhões de jovens sem estudar nem trabalhar, aponta Pnad, FSP

  

O Brasil tem 9,6 milhões de jovens que estão sem estudar e sem trabalhar. Essa situação, de dupla falta de oportunidades, atinge quase um quinto (19,8%) da população com idade entre 15 e 29 anos de idade.

Os dados são da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) Educação de 2023, divulgada nesta sexta-feira (22) pelo IBGE. Os resultados mostram que a proporção de jovens sem trabalho e sem estudo está diminuindo no país, mas segue em patamar preocupante.

Em 2019, 22,4% da população dessa faixa etária se encontravam nessa situação. Em 2022, caiu para 20% e, no ano seguinte, retraiu em mais 0,2%.

O relatório destaca que a quantidade de jovens no grupo apelidado de "nem-nem" é consequência da dificuldade de combater as desigualdades no país.

Desempregados fazem fila na região central de São Paulo para participar de mutirão de vagas de trabalho realizado pelo Sindicato dos Comerciários - Danilo Verpa - 26.mar.19/Folhapress

Ainda que tenha avançado na ampliação do acesso à educação básica nas últimas décadas, o país não consegue garantir que todos tenham condições de apenas se dedicar aos estudos e ter acesso a um ensino de qualidade para depois terem melhores chances de empregabilidade.

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Quando questionados sobre o principal motivo de terem abandonado os estudos, a maioria dos homens apontou a necessidade de trabalhar como fator prioritário —ainda que nem todos consigam de fato arrumar um emprego. Já entre as mulheres, depois do trabalho, a segunda razão mais citada foi a necessidade de realizar tarefas domésticas e cuidar de pessoas e o fato de terem engravidado.

As mulheres formam o maior grupo da população que não consegue trabalho nem estudo. Mais de um quarto da população feminina (25,6%) nessa faixa etária está nessa situação. Entre os homens jovens, essa proporção cai para 14,2%.

A falta de acesso a emprego e estudo também atinge maior proporção da população parda e preta, mais de um quinto (22,4%) desses jovens. Já entre os brancos, a proporção é de 15,8%.

O relatório da pesquisa também destaca que o grupo mais afetado é o dos jovens entre 18 e 24 anos, em que 24% não trabalham nem estudam. "Percentual alto para a juventude de uma geração mais escolarizada", diz o documento.

"É muito preocupante ter 20% da população jovem, no auge da produtividade, sem uma perspectiva de futuro. Ainda mais considerando que a população do país está envelhecendo. O Brasil não está se atentando para um grave problema social que está acontecendo agora e que vai levar a consequências drásticas a médio e longo prazo", diz o economista Michael França, pesquisador do Insper e colunista da Folha.

Para especialistas, o caminho para solucionar esse problema é conhecido no país, mas não são implementadas ações para colocá-lo em prática. Jhonatan Almada, membro da Rede de Especialistas em Política Educativa da Unesco, avalia que o contingente de jovens sem trabalho e sem estudo é reflexo do descumprimento de ao menos três metas do PNE (Plano Nacional de Educação).

"O país traçou uma série de metas educacionais que poderiam evitar a exclusão desses jovens, mas na última década pouco foi feito para que esses objetivos fossem de fato alcançados", diz Almada.

Entre esses objetivos, ele cita o que definia a necessidade de triplicar o número de matrículas da educação profissional técnica de nível médio. "O objetivo era chegar em 2024 com 4,8 milhões de matrículas. O último censo mostra que só chegamos a 2,4 milhões", diz.

Outra meta também dizia que o país deveria assegurar que 25% das matrículas da EJA (Educação de Jovens e Adultos) fosse integrada à educação profissional —a proporção atual é de apenas 3,7%.

E também sobre a meta de acesso ao ensino superior, que estabelecia ter 50% da população de 18 a 24 anos matriculada em cursos de graduação, o país alcançou até agora apenas 38,5%.

"O descumprimento dessas três metas nos ajudam a entender esse número chocante de jovens esquecidos, abandonados a um futuro sem perspectiva. Mais grave ainda é o fato de não termos no país nenhuma política pública para enfrentar esse problema social", diz Almada.

O país tem hoje políticas para tentar evitar que os jovens abandonem os estudos, no entanto, não tem nenhuma ação pensada para aqueles que já evadiram da escola. O programa Pé-de-Meia, lançado pelo governo Lula (PT), por exemplo, foca apenas os jovens que estão matriculados no ensino médio.

França também destaca a necessidade do país garantir os direitos reprodutivos das mulheres, já que um dos principais fatores para elas não trabalharem é a gravidez.

"A gente precisa de políticas que vão desde a educação sexual até a garantia dos direitos reprodutivos das mulheres para que elas engravidem quando for uma escolha. Para que a gravidez deixe de ser um motivo para elas interromperem a trajetória acadêmica ou profissional", diz.

Os especialistas lembram ainda que essa situação de desalento tem um alto custo social e financeiro para o país.

"Quando o estado se ausenta, algo ocupa aquele espaço. Aquele jovem, que está sem trabalho, sem estudar, sem perspectiva de melhora na vida, vai procurar uma saída. Essa saída pode ser o crime, o alcoolismo, as drogas. O custo social é alto para o país", diz Almada.

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