segunda-feira, 18 de março de 2024

Funcionários da Caixa denunciam que banco passa por ‘privatização camuflada’, ICL

 Funcionários da Caixa denunciam que banco passa por ‘privatização camuflada’

Por Heloisa Villela

Os funcionários da Caixa Econômica Federal suspeitam que a nova direção do banco já colocou em andamento uma privatização camuflada, passando atividades essenciais para subsidiárias, com o objetivo de vendê-las mais adiante. Uma das iniciativas pode colocar em risco programas sociais do governo. O conselho da CEF está em vias de aprovar a transferência de toda a atividade das lotéricas para uma subsidiária e já examina fazer o mesmo com a operação de cartões de crédito.

“A criação da subsidiária LOTEX, hoje Caixa Loterias, em 2016, no governo Temer, teve o propósito de preparar a privatização das operações, o que só não aconteceu devido à forte pressão que exercemos junto com outras entidades e parlamentares”, disse ao ICL Notícias o presidente da FENAG (Federação Nacional das Associações de Gestores da Caixa), Marconi Apolo. Mas a nova administração retomou, rapidamente, os planos de transferência gestados ainda no governo Temer.

No começo do governo do presidente Lula, em 2023, quando Rita Serrano assumiu a presidência da Caixa, uma das medidas adotadas, que estava em andamento, era justamente encerrar as atividades da Lotex. Processo que agora foi revertido. Funcionários da CEF destacam a importância que as loterias têm no financiamento de programas sociais do governo federal.

No ano passado, por exemplo, as Loterias da Caixa arrecadaram um total de R$ 23,4 bilhões e desse total, R$ 7,9 bilhões foram pagos aos apostadores, na forma de prêmios, enquanto R$ 9,2 bilhões foram destinados a programas sociais do governo federal nas áreas de seguridade social, educação, saúde, cultura, esporte e segurança pública. Ou seja, cerca de 60% dos lucros da operação com as loterias volta, todo ano, para a sociedade, na forma de investimentos sociais. E isso só é possível porque a gestão da Caixa é pública.

Loterias da Caixa

Caixa Loterias S. A.

A nova administração já apresentou ao conselho diretor da CEF a proposição Vimar/ Sualo número 258/2024. O objetivo, expresso na ementa da proposição, é transferir a administração das Loterias Federais para a subsidiária Caixa Loterias S. A. Os funcionários da Caixa alertam que essa seria uma maneira de privatizar o negócio da Loteria sem provocar um debate na sociedade já que privatizar a subsidiária não exige uma aprovação no Congresso Nacional. É justamente o que esses funcionários chamam de “privatização camuflada”.

Um processo semelhante já está em andamento para fazer o mesmo com toda a operação de cartões de crédito da CEF. Transferir a operação para uma subsidiária que poderia, mais adiante, ser vendida para uma empresa privada.

As loterias federais são monopólio da Caixa desde 1962 e elas só podem cumprir um papel social porque a administração é centralizada no banco público. Esse volume de recursos, destinado a programas sociais, se tornaria lucro para o futuro dono da operação. Funcionários da Caixa alertaram o ICL Notícias a respeito da rápida retomada do processo de “privatização camuflada”.

Desde que a administração da Caixa foi entregue ao Centrão, atendendo a pedidos do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP–AL), os funcionários da CEF estão vendo se repetir, no governo Lula, o plano adotado nos seis anos de Temer-Bolsonaro, que só não foram levados a cabo por causa da pandemia e da pressão interna na instituição. Mas os planos voltaram à tona agora, com uma velocidade que surpreendeu os funcionários mais experientes da instituição.

FENAG enviou um ofício para a Caixa pedindo esclarecimentos a respeito do processo de migração do controle das lotéricas para a subsidiária. Resta saber se o conselho de administração vai responder antes do fato consumado.

Influência de Lira

Além de indicar o presidente da Caixa, Carlos Vieira, que substituiu Rita Serrano, Arthur Lira exerce influência direta em segmentos do banco que o interessam diretamente. Foi por isso que venceu a disputa de poder com o governo federal e conseguiu que o Ministério da Fazenda anunciasse a saída do assessor especial José Francisco Manssur. Ele era o responsável pela área de apostas esportivas eletrônicas — as chamadas bets.

De acordo com a jornalista Letícia Casado, do UOL, desde 2023, com o avanço da regulamentação das apostas, o grupo do presidente da Câmara dos Deputados fazia forte pressão sobre o ministro Fernando Haddad.

Para evitar mais desgastes na aprovação de pautas de interesse do governo federal no Congresso, o chefe da Fazenda decidiu ceder ao avanço de Lira e resolveu substituir Manssur.

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