Avança na direção correta o concurso arquitetônico lançado pelo governo paulista para o entorno do parque Princesa Isabel, no centro da capital. O projeto de transferir o gabinete do governador para a região tem bom potencial de revitalização urbana —desde que inclua atenção redobrada para detalhes e contorne conflitos entre interesses privados e os do bem público.
O bairro Campos Elíseos, que abriga o palácio do século 19 com o mesmo nome outrora utilizado como moradia do governador, degradou-se como poucos. A omissão das autoridades de assistência, saúde e segurança permitiu que ali vicejasse a cracolândia.
Não existe remédio fácil nem rápido para a chaga aberta no coração de São Paulo. Fazer o mandatário estadual, seu segundo escalão e 22 mil servidores despacharem na vizinhança acarretará, no mínimo, prioridade para o problema.
Não se trata de expulsar moradores de rua e dependentes químicos ali concentrados, mas de reverter a exclusão continuada de comerciantes, transeuntes e residentes pela insegurança crescente.
Urge reorientar o uso do espaço urbano decadente pela oferta de novos serviços, como lazer, gastronomia, cultura e escritórios em prédios inteligentes e sustentáveis.
O custo estimado da empreitada é de R$ 3,9 bilhões, um gasto atualmente impensável sem o apoio de recursos empresariais.
Convém recordar que não será o primeiro megaprojeto de revitalização dos arredores da cracolândia. O programa Nova Luz, de 2005, revelou-se incapaz de atrair capital privado e foi cancelado em 2013.
Há que aprender com as lições do passado para que uma intervenção complexa assim consiga coordenar necessidades públicas com as oportunidades de lucro visadas pelo setor imobiliário. O concurso arquitetônico oferece chance de pôr a iniciativa sob escrutínio de urbanistas e do público em geral.
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