“Não somos material que subsista,
mas padrões que se perpetuam a
si próprios.” (Norbert Wiener –
Cibernética e Sociedade)
A ciência nos mostra, tanto na física quanto na biologia, que todos
os seres vivos são movidos por duas forças opostas: a entropia e a
homeostase. Entropia é a tendência de todos os corpos à
deterioração, à corrupção, ao aniquilamento, à desordem e à morte.
Como diz o poeta Cassiano Ricardo, num belo poema: “Desde o
instante em que se nasce / já se começa a morrer.” (Relógio). A
homeostase, por sua vez, é o mecanismo de autorregulação, pelo
qual resistimos à entropia, mantendo o equilíbrio e a ordem e, por
consequência, a vida. Um equilíbrio instável, sempre em
movimento e jamais estático e acabado, diga-se. O matemático,
filósofo e pioneiro da cibernética, Norbert Wiener, no seu livro
“Cibernética e Sociedade”, explica: “A vida é uma ilha, aqui e
agora, num mundo agonizante. O processo pelo qual nós, seres
vivos, resistimos ao fluxo geral de corrupção e desintegração é
conhecido por homeostase”.
Tanto no plano físico quanto no psíquico convivemos com as
forças da ordem e da desordem. Com os mecanismos de
autorregulação que a natureza nos propiciou, nosso corpo biológico
luta minuto a minuto contra as ameaças de destruição (bactérias,
vírus, inflamações, infecções, psicoses). Quando esses mecanismos
internos são insuficientes, lançamos mão de mecanismos externos
– remédios, tratamentos, cirurgias – para tentar restabelecer o
equilíbrio. É a eterna luta entre a entropia e a homeostase, luta na
qual a entropia acaba sempre levando a melhor.
No plano físico, inimigos íntimos de nós mesmos, tendemos a não
cuidar adequadamente de nossa saúde. A maioria só se cuida
quando o calo aperta, geralmente depois da porta arrombada. No
psicológico, somos ainda mais negligentes. O psíquico não dói tão
visível como o físico. Dói devagar, manso, escondido, em silêncio;
nem percebemos e já tomou conta. Às vezes nos recusamos
conscientemente a perceber, deixamo-nos levar pelo autoengano, o
que torna ainda mais difícil a busca de tratamento.
O criador da Psicanálise, Sigmund Freud, utilizando entidades da
mitologia grega, denominou Eros o princípio (ou energia interior
que temos) orientado para vida, a satisfação, o prazer, enquanto
Tânatos é a energia contrária, a pulsão para a autodestruição e
morte. O primeiro, Eros, busca a unidade, a integridade e o
equilíbrio de nosso psiquismo, enquanto o segundo, Tânatos, nos
impele à destruição, ao nada. A vida é esse permanente conflito
entre essas duas forças. No plano da consciência, o Ego tende a não
admitir a existência de pulsões destrutivas; tais instintos tendem a
ser recalcados, mascarados e encobertos. Mas no plano do
inconsciente eles são bastante ativos e responsáveis por boa parte
dos males psíquicos que acabam perturbando a saúde mental:
neuroses, psicoses, ansiedade, angústia, depressão.
Se, por mais que se lute para manter a vida, por mais que se busque
a homeostase, a entropia é inevitável, sobra para o ser humano o
consolo de que o seu padrão biológico subsiste na sua
descendência. Sob esse aspecto, pode-se dizer que o gene humano,
assim como o de qualquer ser vivo, é praticamente imortal. Um
consolo que não consola, porque a riqueza das experiências e da
vida pessoal de cada ser humano desaparece com a sua morte. São
momentos que “ficarão perdidos no tempo como lágrimas na
chuva”, disse o personagem-androide Roy Batti, antes de morrer,
na maravilhosa obra-prima que é o filme Blade Runner (Caçador
de Androides), de Ridley Scott. (limajb48@gmail.com)
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