O setor de flores e de plantas ornamentais tinha tudo para esperar um cenário dramático durante a pandemia e no pós-Covid. Houve paralisação da comercialização de flores, cancelamento de eventos, fechamento de floriculturas e até limitações de presença em velórios.
Foi um dos primeiros a sentir os efeitos da pandemia, e as previsões iniciais indicavam encerramento de atividades de produtores e de serviços ligados ao setor. Passado o susto inicial, o setor reagiu e se mostrou um dos mais ativos nos últimos anos.
Com o distanciamento social e presa ao teletrabalho, a população mudou de hábitos e passou a incorporar mais as flores e plantas ornamentais no seu dia a dia, seja por hobby, seja para decorar seu novo ambiente de trabalho.
O resultado foi que o PIB (Produto Interno Bruto) do setor cresceu 83,4% de 2017 a 2022. A evolução do período é de 12,9% ao ano, bem acima dos 5,5% do agronegócio como um todo.
Os dados são do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), que fez estudo do setor em parceria com o Ibraflor (Instituto Brasileiro de Floricultura).
Em 2020, ainda sob os efeitos da pandemia, o PIB do setor cresceu 3,2%, basicamente devido ao aumento real de preços. Em 2021 e 2022, no entanto, a evolução média foi de 24% ao ano.
Um dos pontos favoráveis desse crescimento foi que, por mudança de hábitos do consumidor ou pelo fim do represamento de eventos e festas, a evolução se deu mais pelo aumento do volume de produto agregado pela cadeia produtiva, que foi de 42,4%, do que pelos preços, que tiveram correção real de 28,8% no período.
O PIB de flores e de plantas ornamentais saiu de R$ 10 bilhões, em 2017, para R$ 18,4 bilhões, em 2022. As principais acelerações ocorreram nos anos de 2021 e de 2022.
Com isso, a participação da cadeia de flores e de plantas ornamentais no PIB do agronegócio subiu de 0,53%, em 2017, para 0,72%, em 2022.
O destaque fica para os serviços de decoração, que tiveram evolução de 189% no PIB, com os avanços ocorrendo principalmente nos anos de 2021 e de 2022. À medida que as restrições sanitárias cessaram, houve uma retomada dos eventos e das festas sociais, até então represadas.
A exigência de mais produto pelo mercado abriu novas portas para trabalhadores. A cadeia do setor empregava 267 mil pessoas em 2022, 26% acima das 212 mil de 2017. O emprego no setor cresceu a uma taxa de 4,7% ao ano, enquanto o agronegócio, como um todo, teve evolução anual de 1,2% no período.
Um dos anos mais difíceis para o setor foi o de 2020, quando o mercado de trabalho encolheu para 173 mil trabalhadores, 25% a menos do que no ano imediatamente anterior. Nesse período, o PIB teve a menor evolução dos cinco anos analisados, ficando em 3,2%, puxado pelo aumento dos preços.
Com o crescimento do quadro de trabalhadores, a cadeia de flores e de plantas ornamentais passou a ter uma participação de 1,18% no total da população ocupada no agronegócio. Em 2017, era de 0,95%, segundo as informações do Cepea e do Ibraflor.
A pesquisa mostra que a cadeia de flores tem um trabalhador mais formalizado do que a média da agricultura nacional. Além disso, há uma maior participação feminina e escolaridade média mais elevada.
A pesquisa considera como população ocupada na cadeia das flores os trabalhadores pertencentes aos segmentos de insumos, da produção de flores e de plantas, do comércio atacadista e varejista, de serviços, onde entram decoração e paisagismo, e de agrosserviços, onde estão os trabalhadores de transporte e outros relacionados à atividade.
Dois segmentos se destacaram no aumento da população ocupada. Um deles é o agrosserviço, que, devido à maior produção no campo, elevou a necessidade de transporte, armazenagem, serviços financeiros e contábeis. Com isso, houve expansão de 51% no quadro de trabalhadores de 2017 a 2022. O outro foi o de paisagismo e decoração, que teve alta de 35% na mão de obra ocupada no período.
O maior número de trabalhadores na cadeia de flores está no setor de comércio, que detém 41% da força de trabalho. Na produção, dentro da porteira, estão 18%.
O setor vem registrando uma aceleração na produtividade. A população ocupada dentro da porteira cresceu 6% de 2017 a 2022. Nesse mesmo período, o PIB em volume aumentou 19,8%. Em 2017, 22% dos trabalhadores da cadeia estavam na produção. Em 2022, eram 18%.
A pesquisa do Cepea aponta que a geração de emprego e de renda tem um efeito multiplicador importante da produção de dentro da porteira até a chegada ao consumidor final.
Os empregados com carteira assinada na cadeia de flores representam 47% da população ocupada, acima dos 39% da agropecuária brasileira. Já os sem carteira assinada somavam 16% em 2022, taxa semelhante à de toda a agropecuária.
Os números do levantamento do Cepea mostram que a atividade de flores e plantas está atraindo pequenos produtores. Em 2017, os trabalhadores por conta própria somavam 17%. Agora, são 23%.
Ao contrário, decoração e paisagismo diminuem o número de trabalhadores por conta própria e aumentam o de assalariados, o que indica um crescimento no tamanho das empresas do setor.
O rendimento médio real dos trabalhadores com carteira assinada aumentou 2,6% de 2017 a 2022; o dos sem carteira assinada, 10,4%, e o dos trabalhadores por conta própria, 4,1%, Já o rendimento dos empregadores caiu 0,3% no período.
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