O histórico hangar de madeira de Congonhas será transformado em terminal de embarque de passageiros no aeroporto da zona sul de São Paulo. Do local sairão ônibus que irão levar passageiros até as aeronaves.
A transformação do antigo hangar da Varig —usado atualmente pela Gol— em sala de embarque remoto faz parte da reformulação do aeroporto. Ela foi citada durante apresentação do projeto para Congonhas, na segunda-feira (25), pela concessionária espanhola Aena.
Entre outros, por contrato, até 2028 será preciso construir uma nova estrutura de embarque de passageiros para aumentar a distância entre a pista principal e a de taxiamento. Ao todo, serão investidos cerca de R$ 2 bilhões.
Erguido no fim dos anos 1940, o hangar foi usado pela Real Transportes Aéreos, empresa que também naquela época inaugurou a ponte aérea entre Congonhas e o aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, com os históricos aviões DC-3.
Na década de 1960, o local passou a ser usado pela Varig e atualmente está com a Gol.
O galpão foi tombado em 2011, após a aprovação pelo Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental).
Construído em madeira triarticulada, o local, com seu famoso arco, é citado na resolução de tombamento como "exemplar único de técnica construtiva não mais praticada da cidade de São Paulo".
Com a reformulação, o número de posições de embarque passará de 30 para 37, sendo que 19 serão pontes ligadas diretamente às aeronaves e as demais de acesso aos ônibus. O hangar entra no pacote da ampliação. Lá está prevista a instalação de dez portões.
Depois de implementadas as mudanças, com todos os pontos de parada de aeronaves preparados para receber aviões de maior capacidade, a previsão é que Congonhas passe dos atuais 22 milhões de usuários ao ano para 29,5 milhões, sem aumentar o número de movimentos, atualmente de até 44 pousos e decolagens por hora.
A área de embarque e desembarque vai dobrar de tamanho, chegando a 105 mil m² e usará a estrutura atual da Gol, que vai além do hangar tombado.
"Vamos manter toda a arquitetura do galpão", afirma Kleber Meira, diretor-executivo do aeroporto, citando a obrigatoriedade de preservação.
O local, segundo projeções mostradas pela empresa, deverá ter boa iluminação e ventilação natural, áreas amplas de circulação e cadeiras bem distribuídas para quem espera a chamada do voo.
O terminal atual, de acordo com a concessionária, será destinado ao desembarque.
Realizar obras de grande porte em um lugar que tem boa parte da sua estrutura tombada —entre outros, além do hangar, estão nessa situação o saguão principal, mezanino, o antigo salão de danças e o pavilhão de autoridades—, sem diminuir o movimento, é o grande desafio da empresa espanhola que faz a gestão do aeroporto inaugurado em 1936.
"O aeroporto de Congonhas é um patrimônio da cidade de São Paulo e do Brasil, com um papel importante para a conexão de toda a malha aérea nacional", diz o espanhol Santiago Yus, diretor-presidente da Aena no Brasil.
Valter Caldana, professor da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da Universidade Presbiteriana Mackenzie, acredita que o uso espaço para outra finalidade pode ser uma oportunidade para que as pessoas saibam saibam da existência de uma estrutura "maravilhosa", desconhecida pela maioria.
"Não será um lugar aberto ao público em geral, porém, muita gente deverá passar por ali", afirma.
Mas o especialista alerta para a necessidade de se fazer um trabalho de restauração de excelência com arquitetos especializados e mão de obra artesanal. "São Paulo atingiu a maturidade para olhar o passado e o futuro."
Em nota a Secretaria Municipal de Cultura diz ter realizado reuniões com a concessionária para dar orientações quanto às diretrizes de preservação do conjunto tombado e reforça que ainda não foram feitas intervenções em nenhum dos locais preservados.
A concessionária, afirma a prefeitura, por enquanto apenas fez solicitações de reforma da área administrativa. "As diretrizes de preservação não impedem a reestruturação do aeroporto."
A Gol diz que o hangar faz parte de em um dos três centros especializados em manutenção da companhia, distribuídos também nos aeroportos de Confins, na região metropolitana de Belo Horizonte (MG), e Brasília.
Com exceção do galpão tombado, o restante da estrutura deverá ser demolida para construção da nova área de embarque e posicionamento de aviões.
O local é alugado e a companhia aérea afirma ter um compromisso com a Aena para que haja a disponibilidade de um espaço compatível, que atenda às atuais necessidades operacionais de manutenção da empresa no aeroporto.
Sobre o estado de conservação do hangar, a Gol afirma que realiza constantes avaliações e investimentos em infraestrutura, e que segue normas e diretrizes para preservação de patrimônios tombados, garantindo a adequada conservação.
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