Vestidos de branco, longos lençóis, a carne entrementes, num entardecer qualquer, eles gesticulavam para que entrássemos: bem-vindos, bem-vindos. O contraste das esvoaçantes vestes com os arranha-céus, a pobreza, a sujeira, a delícia contorcida do baixo Bixiga, onde vivi tantos anos, onde eu mesma me apresentei em muitos palcos. Nós, tudo. Imaculados no Total.
Lavaram nossos pés, serviram o banquete: Platão, de longe, observa. Sobre o amor, falemos sobre o amor, gritemos sobre o amor.
Naquela época, eu era um jovem Ser Com Vontade de Ser. Com assombro contido, minhas pupilas dilatando diante dos c#s e as b#ndas, a vociferação, a doçura, o vinho e as frutinhas estalando entre peles, no alto das bocas. Tudo junto. O banquete.
Zé, à vontade no palco-mundo, pousou como pássaro, premonição, oráculo, heyoka, palhaço sagrado. Com gosto, com corpo, todo inteiro, esfregando-se e refestelando-se e regozijando-se no colo da plateia -- mais contundente e irmão do que essas palavras castiças dão a entender, se é que dão.
Em uma entrevista, ele decretaria: num tem amor sem ódio, num tem ódio sem amor. Tudo vem junto.
Depois dessa noite, em que saí, devolvida ao mundo, remexida e pensarosa, nossos caminhos voltariam a se cruzar por veredas indiretas da vida -- longínquas, mas indeléveis.
Evoé às passagens por essa Terra dos grandes oráculos, exus, serpentinas; timões que nos (re)definem os sumos e rumos culturais. E a batida do meu coração. A pura vontade do ser, sendo. Puramente.
Vai com asas, Zé.
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