Ele é um pregador antivacina, adepto de teorias da conspiração e militante do ódio. Quer ver todo mundo armado e sua especialidade são mentiras, documentos falsos e acusações sem prova. Bolsonaro? Quase. É também hidrofobamente contra remédios e receitas médicas. Se eleito para a Casa Branca em 2024, ameaça fechar de vez a fronteira com o México. E promete salvar os americanos da "desesperança em que vivem hoje". Donald Trump? Também não. É Robert Kennedy Jr., 69 anos, pré-candidato à Presidência dos EUA —pelo Partido Democrata, pode crer.
Para muitos, é difícil ligar esses espasmos de extrema direita republicana ao nome Kennedy. Robert Jr. é sobrinho de John Kennedy, presidente assassinado em 1963, e, claro, filho de Bobby Kennedy, senador e também assassinado em 1968. Os Kennedy eram charmosos e liberais, uma espécie de família real da Guerra Fria, ainda mais se comparados aos dirigentes soviéticos embrulhados naquelas peles de urso.
Mas, desde então, muita coisa feia se descobriu sobre os anos Kennedy. Bobby, por exemplo, não era tão liberal nem charmoso quanto se pensava. Foi advogado de Joe McCarthy, o profissional da histeria anticomunista que levou centenas de pessoas à desgraça nos anos 50, e nunca se retratou por isso. Como secretário da Justiça do irmão, pôs em risco a legitimidade das organizações operárias nos EUA. Ignorou enquanto pôde a causa negra e, assim como John, apoiou a escalada inicial que levaria à carnificina no Vietnã. Robert Jr., como se vê, tem a quem puxar.
É verdade que Bobby, pouco antes de morrer, melhorou muito. Passou a combater o militarismo americano, a discriminação racial, a Máfia, a poluição. No Rio, em 1965, abraçou um ensaboado Pelé no vestiário do Maracanã. E, morto tão jovem, aos 42 anos, ainda teve gás para produzir 11 filhos.
Um deles, pela lei das probabilidades, tinha de ser Robert Jr.
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