Chega em breve às livrarias "Que Bobagem!", a ótima obra em que Natalia Pasternak e Carlos Orsi detonam várias das pseudociências que são consumidas por um público insuficientemente familiarizado com o método científico ou, pior, que o rejeita. A lista de alvos da dupla é ecumênica. Inclui desde presas fáceis, como a astrologia, a homeopatia e as curas energéticas, até práticas que gozam de maior prestígio, como a acupuntura e a psicanálise.
O tratamento que Pasternak e Orsi dão às questões é amplo. Não só mostram como cada uma das pseudociências abordadas falha em mostrar que funciona como também descrevem os principais vieses cognitivos humanos que nos tornam vulneráveis à pregação, seja de charlatães, seja de adeptos convictos, ainda que equivocados.
Os autores também fazem uma arqueologia bem completa dos temas. É assim que aprendemos, por exemplo, que a Medicina Tradicional Chinesa (MTC) é menos "tradicional" do que se supõe. Ela foi compilada nos anos 50 por ordem de Mao Tse-tung. Ele não acreditava em nada disso, mas resolveu difundir a MTC por considerar que era a única maneira de um país recém-saído da revolução comunista, com pouquíssimos médicos, oferecer tratamento a toda a população. Pouco importava que as terapias não fossem efetivas. Ou que descobrimos que o avistamento de discos voadores é um fenômeno da Guerra Fria. Em períodos anteriores, luzes estranhas no céu eram identificadas a anjos, não alienígenas.
Para não ficar só em elogios, acho que Pasternak e Orsi se precipitaram ao qualificar a ciência como "melhor descrição possível da realidade factual". Essa é uma posição respeitável, mas a discussão epistemológica é mais complicada. Num livro que não é tão sucinto (337 páginas), teria valido a pena gastar alguns parágrafos explicando as controvérsias entre realistas e antirrealistas. Casaria bem com o espírito antidogmático de "Que Bobagem!".
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