Maluf e Pitta, Alckmin e Doria, Bolsonaro e Tarcísio. Nos três casos, políticos seniores criaram praticamente "ex nihilo" candidaturas que se sagraram vencedoras. Mas a festa não durou muito e logo sobreveio o rompimento. Essa dialética entre criador e criatura é inevitável na política?
Especialmente em política, há pouco que esteja inscrito em pedra. Lula também criou Dilma do nada e, embora tenha havido momentos de tensão no relacionamento entre os dois, eles nunca se desentenderam publicamente. Ainda assim, acho que dá para afirmar que o rompimento, mesmo não sendo uma lei, é tendência saliente. Eu próprio prognostiquei aqui em dezembro que Bolsonaro e Tarcísio se afastariam.
E não é difícil entender as razões para isso. Criadores costumam ver a eleição de seus protegidos como uma realização pessoal sua e por isso se sentem no direito de cobrar subordinação e lealdade. Já as criaturas, mesmo que não desejem o rompimento, têm agenda própria. Veem-se como detentores legítimos de seus mandatos e por isso não acham que devam colocar seu governo a serviço de patronos de outrora.
É interessante notar que dinâmica semelhante se repete entre pais e filhos. Mas aí temos o amor, que alguns chamam de genes compartilhados, para aparar as arestas. Para uma ala mais ortodoxa dos biólogos, foram as relações de parentesco que viabilizaram a evolução da cooperação entre humanos.
Penso que estão em jogo aí dois paradigmas conflitantes. O primeiro, favorecido pelos criadores, é mais
tribal. Nele, a lealdade se dá entre pessoas e segue a lógica dos serviços prestados. O segundo, ao qual apelam as criaturas, é mais institucional. Os compromissos são prospectivos e não retrospectivos e não têm caráter pessoal. A pendenga nunca se resolve porque os próprios eleitores transitam entre as duas visões. A maioria rejeita a subordinação absoluta, mas não perdoa traições escancaradas.
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