domingo, 2 de julho de 2023

Bravo Censo Brasileiro, Marcia Castro - FSP

 O Censo Demográfico é de extrema importância para qualquer nação. Ao fornecer um retrato da população, os dados do Censo são essenciais para o planejamento de políticas públicas.

Ao longo de décadas o Censo brasileiro incorporou novas questões que permitiram identificar grupos vulneráveis e inequidades. Em 2022, pela primeira vez, quilombolas serão identificados como grupo étnico. Coletar essa informação é uma justiça histórica.

Após atrasos causados pela pandemia de Covid-19 e por questões orçamentárias e logísticas, a coleta dos dados do Censo, inicialmente prevista para durar três meses, levou cerca de dez. Os primeiros resultados foram divulgados pelo IBGE no dia 28. Destaco aqui duas questões.

Recenseador do IBGE entrevista moradora na fase final de apuração do Censo Demográfico
Recenseador do IBGE entrevista moradora na fase final de apuração do Censo Demográfico - Jardiel Carvalho - 25.mar.23/Folhapress

Primeiro, o país observou o menor crescimento populacional desde 1872 (data do primeiro Censo), apenas 0,52% ao ano entre 2010 e 2022. A desaceleração do crescimento já era uma tendência em função da transição demográfica (redução da mortalidade e fecundidade) e deve continuar.

Além disso, em 43% dos 5.570 municípios a população diminuiu entre 2010 e 2022. Ainda que a maioria desses municípios tenha menos que 100 mil habitantes, a redução foi observada em capitais incluindo Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Fortaleza, Salvador, Porto Alegre, Belém e Natal (todas, exceto Natal, com mais de 1 milhão de habitantes).

O mesmo foi observado nos Estados Unidos. A taxa de crescimento populacional em áreas metropolitanas com mais de 1 milhão de habitantes entre 2010 e 2021 foi negativa (-0.16), principalmente devido a migração interna para cidades menores, movimento que se intensificou durante a pandemia de Covid-19.

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No Brasil, depois da epidemia do zika vírus, da pandemia de Covid-19, e da crise econômica, apenas os dados detalhados do Censo permitirão entender como mudanças no padrão de nascimentos, mortes e dinâmica migratória contribuíram para a retração populacional.

Segundo, no dia 1º de agosto de 2022 o Brasil tinha 203.062.512 de habitantes, número menor do que a prévia de 207.750.291, divulgada em 28 de dezembro de 2022 (antes da conclusão da coleta de dados do Censo) e menor do que a estimativa de 213.317.639 habitantes em 2021. Isso não é um erro!

É universalmente aceito que um Censo não é perfeito e que erros de cobertura e declaração ocorrem. Por exemplo, no Brasil a taxa de não resposta em 2022 foi de 4,23%, acima dos 1,6% de 2010. Técnicas estatísticas e demográficas minimizam esses problemas e permitem quantificar a qualidade do Censo.

Estimativas populacionais também são incertas. A Divisão de População das Nações Unidas atualiza estimativas e projeções populacionais a cada dois anos e divulga intervalos de predição com 80% e 95% de certeza.

No Brasil, um agravante adicional é que em 2015 não foi feita uma contagem populacional por falta de verba. A contagem capta mudanças demográficas desde o último Censo e permite atualizar as estimativas de população. Portanto, já era sabido que as estimativas calculadas antes da divulgação do Censo de 2022 tinham uma grande incerteza.

Ainda há muito trabalho a ser feito até a divulgação dos dados completos do Censo. A pesquisa de pos-enumeração, etapa normal de um Censo Demográfico, está em andamento e permitirá obter indicadores de qualidade do Censo de 2022.

Até lá, é preciso ressaltar (e respeitar) o trabalho árduo, de extrema importância, e conduzido com transparência pelo IBGE. Todos os resultados preliminares do Censo foram avaliados e analisados por um grupo de renomados demógrafos e estatísticos em colaboração com técnicos do IBGE, um exemplo de parceria entre a academia e o serviço público a ser seguido por outras áreas.


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