Lá vamos nós de novo. Chega ao Brasil uma nova e perigosíssima droga, o fentanil, e os médicos temem que se repita com ela o erro cometido com o crack nos anos 90. Na época, por tudo que se sabia do crack nas ruas de Nova York, sua implantação entre nós parecia questão de tempo. Era essencial uma ação preventiva. Mas os então ministros e secretários da saúde o ignoraram. Quando se deram conta, o crack já se instalara e se irradiara pelo país.
Com o fentanil, não teremos as cenas de sempre, em que a polícia invade uma cracolândia, dispersa os infelizes, destrói as barracas, recolhe o lixo, esguicha o território, vai embora e, em horas, a cena se recompõe. Não haverá uma fentanilândia —os usuários morrerão em casa mesmo ou onde consumirem o produto. O fentanil é um opioide 50 vezes mais potente que a heroína e 100 vezes mais que a morfina. Uma dose de 2 miligramas pode provocar parada respiratória quase imediata. Nos EUA, já se morre mais de fentanil do que em acidentes de trânsito.
O fentanil existe há décadas como anestésico em salas de cirurgia e sob controle médico. A importação de seus componentes é fiscalizada pela Anvisa, e o Brasil o fabrica em laboratórios também controlados. Seu itinerário do laboratório para os fornecedores e, destes, para os hospitais é feito sob vigilância, assim como o descarte do excedente na ampola. Mas agora temos sua fabricação em laboratórios clandestinos, o desvio de estoques legais e sua venda pelo tráfico. Há duas semanas, a polícia fez a primeira apreensão do produto no Brasil: 31 ampolas, no Espírito Santo. É pouco? Não, é só o começo.
A história das drogas mostra como o tempo exigido para a instauração das dependências está encurtando. O álcool, a maconha e a cocaína podem levar anos; os remédios tarja preta, a morfina e a heroína, muito menos.
O fentanil pode nem criar dependência. Mata antes.
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