terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Vale trocar a Uber pelos Correios? O problema é ficar uns 60 dias parado em Curitiba, Pedro Fernando Nery - OESP

 Um milhão e meio de brasileiros gera renda por meio de aplicativos. Motoristas e entregadores em que, segundo o Ipea, predominam jovens negros sem nível superior. Um desafio para os governos: de um lado o potencial de geração de renda para os periféricos, de outro, a exposição a riscos com pouca proteção estatal. O ministro do Trabalho teve uma ideia.

Como os taxistas antes deles, esses profissionais trabalham de forma autônoma. Não há nem os direitos nem as amarras da CLT, tampouco o custo da pesada tributação do trabalho no Brasil. Podem trabalhar quando quiserem, em qual plataforma quiserem, até mais de uma ao mesmo tempo.

Porém, estão a um acidente de uma desgraça. Basta ainda um bloqueio do app para a renda colapsar. Um caminho seria a proteção via MEI, que é barata. Mas o Estado continua perdendo arrecadação e, apesar de direitos previdenciários, não há FGTS e seguro-desemprego.

Os Correios foram citados pelo ministro do Trabalho como um possível substituto para os apps de transportes no caso de saída da Uber do País
Os Correios foram citados pelo ministro do Trabalho como um possível substituto para os apps de transportes no caso de saída da Uber do País Foto: Hélvio Romero/Estadão

Já a alternativa de colocar todos como contratados pelos aplicativos, com os encargos, poderia inviabilizar a atividade. Consumidores não estariam dispostos a pagar. Empresas fechariam ou sairiam do Brasil, como a UberEats já fez. As operações podem ficar reduzidas ou informais. Risco, então, de queda de ocupação e da renda de jovens negros. A Espanha da Lei Rider é uma referência das consequências da regulamentação, com taxa de pobreza 10 vezes menor do que a nossa.

As plataformas não costumam dar lucro, e as tech demitem pelo mundo. O ministro do Trabalho, em entrevista, reconheceu que a regulamentação dos apps poderia levar a Uber a sair do País. Neste caso, o governo criaria novo aplicativo, operado pelos Correios.

Mas o know-how não é simples de replicar: se é difícil para o Vale do Silício, será difícil para a estatal. Apps de prefeituras mantêm os profissionais como autônomos, continuando a precarização que o ministro quer combater. E com motoristas concursados o serviço será mais caro (para consumidores ou contribuintes).

Melhor seria argumentar que a falência de empresas não deve ser impedida. É a lógica da “destruição criativa”: se a Americanas ou uma plataforma não são economicamente viáveis na legislação escolhida, que quebrem e liberem para outros setores mais promissores os recursos físicos e humanos que ocupam de forma ineficiente (ex: construção civil).

É um argumento que os críticos dos apps ainda não conseguem admitir. Vale trocar a Uber pelos Correios? “O problema é que você pode parar em Curitiba e ficar uns 60 dias lá”, ironizou o economista Caio Augusto.

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