A repórter Paula Soprana revelou que o TikTok entregou ao Tribunal Superior Eleitoral um relatório informando ter derrubado 10.442 vídeos impróprios durante os ataques golpistas do 8 de janeiro e nos dias seguintes. Boa notícia.
E as outras plataformas? O Kwai diz que não pode abrir esses números. A Meta (dona do Facebook e do Instagram), bem como o YouTube, Telegram e o Twitter, também não se manifestaram. Má notícia.
As empresas que controlam essas plataformas estão numa atitude suicida. Como empresas não se matam, pois quem as mata são seus diretores, eles correm o risco de se transformar em cúmplices de golpismo, mentiras e difamações.
Nada custaria divulgar números como os do TikTok.
O silêncio arrogante que esses doutores vestem ao discutir o uso impróprio dos serviços de suas empresas poderá alimentar avanços contra a liberdade de expressão.
Sabe-se que o governo cozinha um instrumento legal para barrar a utilização das redes sociais como instrumento de mobilizações golpistas, mentirosas e difamadoras. A arrogância de uns poderá ser usada para satisfação de outros.
As plataformas usadas para organizar a "festa da Selma" de 8 de janeiro foram instrumentais para a prática de crimes.
Se um sujeito usa um Volkswagen para assaltar um banco, a Volks não tem nada a ver com isso, mas se uma locadora de Fuscas sabe que seus carros estão sendo usados em assaltos, nada lhe custa colaborar com a polícia entregando-lhe a lista dos locatários.
O sacrossanto juiz Oliver Wendell Holmes, da Corte Suprema dos Estados Unidos, matou essa charada em 1919. Num voto que se tornou pedra angular na defesa da "livre troca de ideias", ele ressalvou que ela "não protege o cidadão que falsamente grita ‘fogo’ num teatro cheio".
Além dessa ressalva ilustrativa, Holmes criou o conceito de "perigo claro e presente". O pessoal que no dia 8 de janeiro ia para a "festa da Selma" levava consigo uma proposta explícita (ocupar o Congresso, o Planalto e o STF).
Quem invadiu os prédios delinquiu e as mensagens para eles trocadas são provas da participação num crime. Nada a ver com liberdade de expressão.
Os doutores das big techs defendem o negócio de suas empresas. Devem lembrar que sempre há algum mentiroso protegendo-se atrás da liberdade de expressão e, do outro lado, sempre há alguém querendo esconder a verdade e buscando proteger-se com a censura.
Quando recusam-se a revelar até mesmo quantos vídeos impróprios derrubaram nos dias em que o Brasil passou por uma tentativa vandálica de golpe de Estado, levam água para o monjolo da turma que gosta de censura.
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