O governo Lula pretende aprovar uma reforma dos tributos sobre o consumo, em um primeiro momento, e também mudanças nas regras do Imposto de Renda que inclua a taxação dos dividendos.
"Se fizemos a tributária sem pensar a administrativa, não vai ser uma reforma tributária. Vai ser um projeto para aumentar a carga", afirmou Kassab durante evento com empresários organizado pelo Grupo Voto.
O secretário afirmou que todas as propostas em tramitação no Congresso têm seus méritos, citando nominalmente a PEC 45, elaborada pelo atual secretário do Ministério da Fazenda Bernard Appy, e o projeto sobre Imposto de Renda do ex-ministro Guedes, que já foi aprovado pela Câmara.
Sobre esse último, afirmou que tributar os dividendos vai tumultuar a vida dos empresários e aumentar a interferência da Receita Federal na vida das empresas.
Kassab também foi questionado sobre um possível aumento do ICMS geral para compensar a redução de alíquota para itens como combustíveis e telefonia. Afirmou que os governadores pediram ao governo federal que resolvesse a questão.
O secretário também afirmou que seu partido apoia o governo federal, mas não irá votar a favor de medidas econômicas que possam gerar problemas na área econômica e afastar investimentos. Ele disse que o PSD estará "radicalmente contra qualquer mudança" em pilares como marcos regulatórios, leis sobre agências reguladoras e a reforma trabalhista. Também defendeu a regra do teto de gastos.
"Sou a favor da lei do teto e entendo que ela vem funcionando bem. O próprio [Henrique] Meirelles, que é o pai da ideia, já admite algumas excepcionalidades. Reforma fiscal para mim é trabalhar para melhorar a lei do teto."
Kassab disse que as poucas manifestações do presidente lula "não vão no sentido da razoabilidade em relação ao equilíbrio" fiscal, mas disse que o governo está no começo e que o mandatário deve seguir o padrão de seu primeiro mandato.
"Somos da base do governo federal. Nossos líderes estão prontos para ajudar o governo, mas não para acompanhar naquilo que possa tirar a economia de seu rumo", afirmou.
"Tenho esperança de que vá prevalecer o bom senso. Precisamos que esse governo dê certo. O Lula, para fazer um bom governo, não tem saída, tem de acertar na economia. Não tenho preocupação de o Lula dar uma guinada à esquerda."
PROPOSTAS MAIS AVANÇADAS NO CONGRESSO
1) PEC 45 - relatório deputado Aguinaldo Ribeiro
- Substitui cinco tributos (PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS) por um Imposto sobre Bens e Serviços e um Imposto Seletivo sobre cigarros e bebidas alcoólicas
- Transição de seis anos em duas fases, uma federal e outra com ICMS e ISS
- Substitui a desoneração da cesta básica pela devolução de imposto para famílias de menor renda
2) PEC 110 - relatório senador Roberto Rocha
- Criação da CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) com fusão do PIS e Cofins
- Criação do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços), com fusão do ICMS e ISS
- Substitui IPI por um imposto seletivo sobre itens prejudiciais à saúde e meio ambiente
- Criação do Fundo de Desenvolvimento Regional, abastecido com recursos do IBS
- Restituição de tributos a famílias de baixa renda
3) PL 3887/2020 - proposta do Ministério da Economia
- Criação da CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) com fusão do PIS e Cofins
- Mantida regra atual de desoneração da cesta básica
4) PL 2337/2021 - texto aprovado na Câmara
- Isenção do IRPF na faixa até R$ 2.500 e Correção de média de 13% nas demais faixas
- Desconto simplificado máximo de R$ 10.563,60 (hoje, limite é de R$ 16.754,34)
- Tributação de dividendos, com isenção para o Simples e lucro presumido
- Corte da alíquota-base do IRPJ de 15% para 8%
- Corte da CSLL em até 1 ponto percentual
- Fim dos JCP (Juros sobre Capital Próprio)
Fontes: Câmara dos Deputados e Senado Federal
PROPOSTA DO GRUPO DOS SEIS (BERNARD APPY E OUTROS)
1) Tributação do consumo: nos termos das PECs 45 e 110, em tramitação no Congresso
- Substituição de cinco tributos (PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS) por um imposto sobre valor adicionado (IVA), com arrecadação centralizada e gestão compartilhada (PEC 45)
- Possibilidade de ter um IVA federal e outros para estados e municípios (PEC 110)
- Substituir a desoneração da cesta básica pela devolução de imposto para famílias de menor renda
2) Tributação da renda do trabalho
- Atualização da tabela do IRPF mais correção anual pela inflação
- Alíquota adicional para rendas mais elevadas
- Limitação de benefícios fiscais
- Redução da contribuição patronal na parcela da remuneração superior ao teto do INSS
3) Tributação do capital
- Redução da alíquota sobre lucro das empresas e mudança na base de cálculo
- Tributação de dividendos e outras rendas por meio de tabela progressiva
4) Tributação de aplicações financeiras
- Elimina isenção para algumas aplicações (LCI, LCA, CRI, CRA e fundo imobiliário)
5) Regimes simplificados (Lucro Presumido e Simples)
- Reformulação para corrigir distorções que dificultam o crescimento das pequenas empresas, desestimular "pejotização" e baixa tributação da alta renda
- Pequenas do Simples devem pagar menos imposto; PJs de alta renda, mais
6) Tributos sobre o patrimônio
- Lei complementar sobre heranças e doações no exterior
- IPVA para embarcações e aeronaves
- Revisão do ITR (imposto territorial rural)
Fonte: Contribuições para um Governo Democrático e Progressista (agosto/2022)
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