A Folha perguntou por que as baterias das escolas de samba não têm instrumentos de sopro. Experts foram ouvidos e deram doutas respostas, às quais ouso acrescentar a mais óbvia. Baterias de escolas de samba não têm instrumentos de sopro porque são baterias. Ou seja, um conjunto de instrumentos de percussão, dispostos no espaço de modo a que se complementem, como numa orquestra. Uma orquestra rítmica. Cada escola tem arranjos próprios e sua execução caberia em partituras. É uma massa sonora produzida exclusivamente pelas mãos humanas, com o apoio de violões e cavaquinhos.
Uma escola de samba se compõe —podem ser mais, mas este é o básico— de 11 surdos de 1ª marcação, 11 de 2ª, sete de 3ª, quatro agogôs, quatro reco-recos, dez cuícas, 12 pandeiros, 25 repiques, 43 caixas, 70 chocalhos e 71 tamborins, comandados por três diretores de bateria e um mestre, cada qual com um apito. O apito, aliás, é um instrumento de sopro e o único permitido. Só as cordas são amplificadas, além, claro, dos puxadores do samba. Para que trompetes e trombones?
Os sopros não cabem nem nos blocos, estes historicamente definidos como um grupo de amigos que contratam uma pequena bateria e desfilam pelas ruas cantando um samba composto por eles mesmos e fantasiados (ou não) de acordo. E, quando se diz desfilar, significa dançar em cortejo, vencendo quarteirões.
Os blocos tradicionais do Rio ainda seguem esse modelo, mas a tendência é que sejam esmagados pelo conceito atual de bloco: 1 milhão de pessoas pulando em meio metro quadrado sem sair do lugar ao som de um artista no palanque, como num show em qualquer época do ano.
E os trompetes e trombones? Estes, sim, são os instrumentos das bandas. Banda é uma coisa, bloco é outra. Uma banda são 10 ou 12 músicos de sopro e bumbos que marcham pela rua tocando antigos sucessos e arrastam o povo. Exemplo: a Banda de Ipanema.
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