Negado. Uma semana depois, mais um envio de originais. Negado. Semana seguinte; mesma coisa. Ainda assim, Todd McFarlane não desistiu e continuou produzindo novas páginas e mandando para editoras das maiores editoras de quadrinhos dos EUA à época.
Até que um editor que precisava de uma tarefa para ontem ofereceu um trabalho menor a McFarlane. O resultado? Uma carreira de sucesso de mais de 40 anos na área e um dos artistas de quadrinhos mais bem-sucedidos do mundo.
O caso dele não é único. Uma das habilidades menos discutidas no mundo corporativo é o de autopromoção. Proatividade é algo que qualquer profissional deve desenvolver, especialmente em carreiras criativas. Mas no Brasil ainda temos a cultura de "pedir emprego".
Entrevistas de emprego são normalmente calcadas em relações de poder na qual organizações detêm todas as cartas e entrevistados são mesmo quase pedintes, tentando mostrar que eles devem ser os escolhidos. Mas existe outro mundo, no qual as relações de trabalho são busca por geração compartilhada de valor. Há até mesmo exemplos de executivos que entram em contato com organizações e cocriam um cargo que seja bom para todos.
Mas, no fundo, a principal lição é que temos que tomar as rédeas das nossas carreiras. Isso significa sempre buscar opções de emprego, manter boas relações com pessoas do ramo e até mesmo entrar em contato direto com outros executivos para sondar se há possibilidades em outras instituições. Se puder, tenha sempre na mesa ofertas de outras organizações para você nunca ficar descoberto.
Não entrei na Fundação Dom Cabral ou na NYU Shanghai por acaso. No primeiro caso, um amigo perguntou se eu gostaria de explorar a oportunidade de trabalhar na instituição e eu disse: "Claro". Mesmo tendo oferta de outra empresa na mão.
No caso da NYU, peguei o email do reitor com um amigo e escrevi uma mensagem sem conhecer ninguém na instituição: "Olá, estarei na China em dois meses, pois sou professor visitante na Universidade de Nottingham Ningbo. Gostaria de conhecer a NYU Shanghai para explorar oportunidades de pesquisas com professores daí". Mal sabia que a instituição estava desesperada para recrutar professores com o meu perfil. Enviei o email para a pessoa certa na hora certa.
Não foi muito diferente na Folha. Depois de escrever uma série de colunas sobre a China, a cada quatro a seis meses escrevia perguntando se havia espaço como colunista recorrente. No terceiro email, recebi uma resposta dizendo que um colunista estava saindo do jornal para concorrer à eleição. Será que eu gostaria de ocupar o espaço dele?
Claro que autopromoção tem limites. Recentemente, um pesquisador escreveu para nossa reitora dizendo que tinha terminado um pós-doutorado e gostaria de emprego na NYU Shanghai. Bem, isso não é proatividade; é só arrogância mesmo.
Se tem uma coisa que alguém aprende em uma instituição americana de ensino é: ninguém é melhor para vender suas ideias do que você mesmo. E, muitas vezes, isso passa por colocar a cara à tapa. Mas não haveria outra forma de alguém de Madureira, sem contatos no mundo acadêmico ou profissional, sair de um doutorado no Brasil para virar professor nas melhores escolas do mundo. E em um jornal como a Folha.
A história de que "é você que constrói o seu sucesso" parece algo de livro de autoajuda de segunda categoria. Mas de certa forma funciona, mesmo que não sempre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário