terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Juliano Spyer - Quem ocupará o posto de candidato dos evangélicos na eleição de 2026? - FSP

 A tarefa de Bolsonaro não foi simples. Para quem olha de fora, o mundo evangélico parece ser homogêneo, mas, na verdade, ele é como um Frankenstein de tradições e linhagens do protestantismo que nem sempre têm boas relações entre si. Será que outros políticos conseguirão angariar o mesmo tipo de lealdade que o ex-presidente obteve desse grupo nas eleições de 2018 e 2022? E o que precisam fazer para atingir esse propósito?

Consultei o pastor Sérgio Dusilek, ex-presidente da Convenção Batista Carioca (CBC), para entender por que igrejas evangélicas pentecostais e históricas atuaram de maneira coordenada para apoiar Bolsonaro. Resumo os argumentos dele a seguir, mas, antes, explicarei rapidamente como evangélicos pentecostais e históricos, os maiores grupos, são diferentes.

O evangélico pentecostal é predominantemente preto e pobre; o histórico é principalmente branco e das camadas médias e altas. A religiosidade pentecostal é encantada, "mágica"; inclui profetização, falar em línguas e incorporações. A igreja histórica é erudita e cerebral e os cultos são discretos. E há desconfiança entre eles: históricos desdenham a escolaridade baixa dos pentecostais; e estes acusam os históricos de terem uma fé fria, que, por isso, se afastou de Deus.

Apesar desse cenário complexo, quase 70% dos eleitores evangélicos escolheram o mesmo candidato em 2018 e 2022. Para Sérgio Dusilek, há quatro motivos maiores para explicar isso:

1 - Evangélicos históricos e pentecostais (incluindo neopentecostais) vêm se aproximando, por vertentes diferentes, do fundamentalismo de inspiração neocalvinista. Ao defender as pautas morais, o ex-presidente ganhou a atenção desses campos.

2 - A defesa aberta do conservadorismo moral atraiu a atenção da Global Kingdom Partnership Network (GKPN), uma organização norte-americana de direita, que atuou para ajudar a costurar alianças do ex-presidente com lideranças midiáticas e com representantes das igrejas mais influentes do país.

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3 - Bolsonaro também deu protagonismo sem precedentes a evangélicos que sofrem com a síndrome do patinho feio. Entre 2018 e 2022, líderes desse grupo passaram a acompanhar regularmente o presidente em viagens oficiais e eram recebidos pela porta da frente dos palácios do Planalto e da Alvorada.

4 - Finalmente o ex-presidente estabeleceu uma relação pragmática com essas lideranças e denominações, encontrando meios para repassar verbas para essas organizações atuarem.

Estou curioso para descobrir quem disputará esse lugar de "candidato dos evangélicos" em 2026.


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