A palavra mimimi ainda não está nos dicionários. Pelo menos não nos aurélios e houaisses, mas a culpa pode ser das minhas edições, tão antigas que ainda impressas em papel. Mimimi é um desafio à morfologia, ciência que, em linguística, significa o estudo da estrutura e da formação das palavras. De onde veio mimimi? Desconhece-se uma raiz que a justifique. Pode ter vindo de mi, a 3ª nota da escala musical, donde mi-mi-mi seria uma sequência de mis. Mas não deve ser o caso —é raro alguém sair solfejando em meio aos selvagens bate-bocas em que hoje é usada a palavra mimimi.
Foi com ela que, de maneira avassaladora nos últimos tempos, bandeiras como o combate ao racismo, ao feminicídio, à homofobia, ao genocídio, às armas que levam ao homicídio e a outros cídios passaram a ser classificadas por certos grupos. Mimimi é sinônimo de chororô, vitimismo maricas, coisa de fracos, choro de perdedor. Tornou-se não apenas uma forma de negar aos humilhados e ofendidos o direito de se defenderem como de ridicularizá-los, reduzindo seus argumentos a uma palavra cômica.
Mas, quando se pensava que o mimimi não teria lugar no universo da macheza e do triunfalismo, eis que a menção a um inesperado cídio —o suicídio— acusa uma brecha nessa carapaça de invencíveis e inexpugnáveis.
Um colunista sugeriu candidamente a Jair Bolsonaro que, para o bem do Brasil, se matasse. Mera ironia, sabendo-se que é o que Bolsonaro sugere todo dia ao povo brasileiro, ao induzi-lo a contrair o coronavírus desprezando a máscara, o álcool gel, o distanciamento, a vacina. É claro que, sendo Bolsonaro um macho full-time, ex-soldado, ex-atleta e ex-humano, a dita sugestão nem o abalou. Mas abalou seus apoiadores. "É um crime!", gritaram. "Uma covardia!". "Não se induz um homem ao suicídio!". "E se ele aceitar a sugestão??".
Surpresa! Os brutos também amam o mimimi.
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