11.jan.2021 às 23h15
Desde o primeiro dia do ano, quem circula pelo metrô de Botafogo tem a impressão de que alguma coisa está errada. Os letreiros e os avisos sonoros comunicam que você acaba de chegar a outro lugar: a estação Botafogo/Coca-Cola.
Em crise financeira, a concessionária de transporte público fez um acordo com a multinacional de bebidas cedendo os direitos de uso do nome. A prática, conhecida como "naming rights", é comum no marketing esportivo e cultural: empresas compram ou alugam espaços mediante a exposição de sua marca. A diferença é que Botafogo, até prova em contrário, é um bairro, e não uma casa de espetáculos ou um estádio de futebol.
A Coca-Cola, essa onipresente, justifica a escolha pela proximidade de sua sede com a estação do metrô. Grandes coisas. Para o carioca, Botafogo não é apenas um ponto de referência ou bairro de passagem. Sua enseada é talvez a mais bela visão do Rio, imagem difundida internacionalmente, que abrange três cartões postais em um só: a faixa de praia na baía de Guanabara, o Pão de Açúcar ao fundo e o Corcovado nas alturas. Aliás, para onde mesmo que o Cristo Redentor olha?
Coluna vertebral ligando o Centro à zona sul, reduto de velhos costumes e novas modas, palco das aventuras do defunto Brás Cubas, Botafogo abriga o mais prestigiado cemitério da cidade, os principais colégios, palacetes e sobrados históricos, chalés e vilas charmosas, diversos consulados, a Casa de Rui Barbosa, o Museu Villa-Lobos, o morro Dona Marta, a escola de samba São Clemente, bons restaurantes e bares que têm resistido à pandemia. O Rio começou ali perto, no morro Cara de Cão. Tão importante quanto, ali nasceu o Botafogo de Futebol e Regatas (para este, sim, cairia bem o dinheirinho do mais famoso refrigerante do mundo).
Foi uma bola totalmente fora: nenhum carioca vai chamar a estação de Botafogo/Coca-Cola.
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