domingo, 17 de janeiro de 2021

Elio Gaspari O xaveco do chavismo bolsonariano, FSP

Treze anos de poder petista não fizeram estragos nas Forças Armadas semelhantes ao que o capitão Bolsonaro conseguiu em dois anos. Durante os governos de Lula e de Dilma Rousseff nenhum general foi demitido de forma constrangedora e sem motivo razoável. Os oficiais-generais nomeados pelos presidentes petistas para funções civis tiveram desempenhos discretos. Bolsonaro jogou militares em torvelinhos, associando a disciplina da carreira às suas fantasias. O que sucede ao general Eduardo Pazuello é prova disso.

As cerejas desse bolo anárquico, reveladas pelo repórter Felipe Frazão, são os projetos de parlamentares bolsonaristas que tramitam no Congresso. Teriam jogado meia dúzia de jabutis em cima da ideia de reorganizar as polícias Civil e Militar. Olhando-se os detalhes, nem jabutis são. Transformaram a ideia num terreno baldio, onde cada um que passa joga o que quer.

É conhecida a admiração de Bolsonaro pelas PMs, apimentada pela simpatia de oficiais do pelotão palaciano diante de alguns motins.

Pelos projetos, os comandantes das PMs deveriam ser escolhidos a partir de listas tríplices saídas da corporação. (Os comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica são de livre escolha do presidente, dentro do quadro de quatro-estrelas.)

Esses comandantes teriam mandatos de dois anos. Vale ouvir o general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro de Bolsonaro: “Dentro da estrutura militar ninguém pode ter mandato”.

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As PMs e os Corpos de Bombeiros teriam generais. É o caso de se perguntar por que os Corpos Marítimos de Salvamento não devem ter almirantes.

A fiscalização das empresas de segurança privada sairia da alçada da Polícia Federal, passando para a jurisdição das Polícias Militares. O perigo embutido nesse sofá velho jogado no terreno é simples: basta lembrar a carreira do capitão Adriano da Nóbrega, o miliciano foragido morto na Bahia. Ou o caso do PM Ronnie Lessa, acusado de ter matado a vereadora Marielle Franco. Nenhum dos dois era um bandido iniciante. Ronnie havia sido guarda-costas de um bicheiro e perdeu uma perna numa briga de quadrilhas. O ex-capitão Adriano comandava a milícia batizada de Escritório do Crime.

Projetos de Legislativos de deputados governistas não têm necessariamente o apoio do governo, mas Bolsonaro, que é tão rápido no gatilho, jamais disse uma palavra contra os pneus velhos e colchões sujos jogados nesse terreno baldio.

O comandante Hugo Chávez desgraçou a Venezuela distribuindo boquinhas para militares da ativa e criando uma milícia.


Quem discute futuro de Trump deve lembrar de sentença sobre fim da carreira de Hitler

Após milícia tentar golpe em 1923, Robert Murphy ouviu sobre fim político de nazista, e deu no que deu

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Para quem discute o futuro de Donald Trump:

Em novembro de 1923 a milícia nazista tentou um golpe de Estado a partir de uma cervejaria de Munique. Robert Murphy era um jovem diplomata americano baseado em Berlim e saiu em busca de informações.

Foi ao núncio apostólico e ouviu dele uma sentença: acabou a carreira política de Adolf Hitler. Deu no que deu.

Em 1945 ele reencontrou o núncio Eugenio Pacelli, que àquela altura atendia pelo nome de Pio 12. Cobrou-lhe a previsão e ouviu:

“Você está falando da infalibilidade do papa, mas naquela época eu era um simples monsenhor.”

A MORTE DE UM PATRONO

Morreu o bilionário americano Sheldon Adelson, de 87 anos, uma das pessoas mais ricas do mundo, com US$ 35,1 bilhões.

Dono de resorts com cassinos em Las Vegas, Macau e Singapura, ele financiava o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, Donald Trump e iniciativas de direita pelo mundo afora. Adelson contou que pretendia gastar US$ 100 milhões para derrotar Barack Obama.

Ele deixou rastro na campanha eleitoral brasileira de 2018. Veio em seu avião, hospedou-se no Copacabana Palace e encontrou-se com o candidato Jair Bolsonaro, que estava acompanhado pelo “Posto Ipiranga”, Paulo Guedes. Ambos chegaram à suíte do magnata entrando pela cozinha do hotel.

Um eco do que conversaram ressoou no ano passado, quando Guedes defendeu a abertura de grandes cassinos durante a tétrica reunião ministerial de abril.

Naquele encontro, Bolsonaro garantiu a Adelson que transferiria a embaixada brasileira para Jerusalém.

Filho de um taxista, Adelson ralou cada dólar que ganhou e viveu na defesa intransigente de sua herança familiar. Em 1988, já bilionário, visitou Israel calçando um velho par de sapatos. Eram de seu pai, um descendente de judeus da Lituânia, que não viveu para visitar Israel.

 

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