quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Ford não pode sair do país sem passar por constrangimento, diz ACM Neto, FSP

 O presidente nacional do Democratas, ACM Neto, defendeu que o governo federal e o governo da Bahia adotem uma postura dura para com a Ford, que anunciou nesta segunda-feira (11) o fechamento de todas as suas fábricas no Brasil.

Ele afirmou que os governos devem avaliar se a Ford cumpriu com todos os compromissos contratuais de contrapartidas a incentivos fiscais e, caso haja pendências, que a montadora seja acionada na Justiça.

“Não acho que a Ford possa sair dessa forma do país, sem que pelo menos passe por algum constrangimento. Do ponto de vista das medidas legais, cabe ao governo avaliar se todos os compromissos que a Ford assumiu para ter os benefícios que teve foram cumpridos”, afirmou o ex-prefeito de Salvador.

Ele ainda afirmou que a decisão da Ford de fechar as fábricas mostra um descaso de multinacional com o mercado brasileiro: “Isso terá consequências para a imagem da empresa o país”.

Logo da Ford em antiga fábrica de São Bernardo do Campo, na grande São Paulo - Miguel Schincariol - 20.fev.2019/AFP

A Ford anunciou na segunda-feira (11) que vai encerrar todas as atividades fabris no Brasil neste ano, o que inclui as unidades de Taubaté (SP, Horizonte (CE) e Camaçari (BA).

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Inaugurada há 20 anos, a fábrica de Camaçari era considerada uma das joias da indústria baiana e tornou-se um dos principais símbolos da guerra fiscal entre os estados brasileiros na década de 1990.

A montadora decidiu vir para a Bahia após romper o contrato que havia firmado com o governo do Rio Grande do Sul em 1999. Na época, políticos baianos como o governador César Borges e senador Antonio Carlos Magalhães, ambos do PFL, atuaram para trazer a fábrica para o estado.

Neste período, beneficiou-se de sucessivas prorrogações de incentivos fiscais concedidos pelos governos federal, estadual e municipal. Por outro lado, tornou-se um marco na diversificação da indústria na região, tradicionalmente voltada fabricação de matérias-primas.

Mesmo com a decisão da Ford fechar a fábrica da Bahia após somente duas décadas, ACM Neto diz considerar que a política agressiva de incentivos fiscais para trazer a empresa para a Bahia foi acertada, assim como a decisão de governos posteriores de renovar os incentivos.

“A vinda da Ford para a Bahia teve caráter vanguardista. Foi a primeira indústria automobilística de porte a vir para o Nordeste, uma quebra de paradigmas para a época”, afirmou, destacando os empregos e a massa de renda que a fábrica gerou na região metropolitana de Salvador.

Por outro lado, ACM Neto criticou a gestão do governador Rui Costa (PT), argumentando que a Bahia tem perdido espaço em termos econômicos. “ Isso tem relação direta com uma postura pouco dedicada do governo estadual em relação à política de industrialização, dinamização econômica e geração de emprego”.

E lembrou que outras indústrias do setor automotivo desistiram de vir Bahia, caso por exemplo da JAC Motors, que chegou a lançar a pedra fundamental de uma nova fábrica, que não saiu do papel.

O governador Rui Costa, por sua vez, tem criticado o governo federal, afirmando eu este abandonou planos para estimular uma produção industrial mais elaborada, dedicando-se basicamente à produção de commodities agrícolas.

“Não há planejamento. O que pensamos nos últimos cinco anos para aumentar o investimento em tecnologia e a industrialização? Nada. Estamos satisfeitos em nos tornarmos uma grande fazenda”, afirmou.

O petista criou um grupo de trabalho que vai buscar alternativas ao fechamento da empresa em Camaçari. A ideia é atrair uma nova indústria automotiva para ocupar o parque industrial que será deixado pela Ford.

RIO GRANDE DO SUL

Governador do Rio Grande do Sul quando a Ford optou por se instalar na Bahia em 1990, Olívio Dutra (PT), avalia que a saída da Ford do país é uma “decisão de mercado”.

“A sua instalação, em um território ou país no globo, é uma decisão de mercado, avaliada por satélites, e importa-se pouco com impactos sociais, econômicos, ambientais e culturais, tanto quando de sua aterrissagem como quando de sua decolagem'', disse o ex-governador em nota.

Olívio relembrou que a Ford indenizou o estado em R$ 216 milhões por decisão da Justiça. O valor foi uma compensação pelos investimentos do governo em obras de infraestrutura, concessão de capital de giro e incentivos fiscais para a instalação da fábrica.

“Mais um momento semelhante àquele da condenação da Ford a ressarcir o estado do Rio Grande do Sul por quebra unilateral de contrato”, disse Olívio sobre a saída da montadora do Brasil.

Olívio afirmou ainda que a Ford abandona o país “depois de ter torcido por um novo governo federal que flexibilizasse as leis trabalhistas, previdenciárias, que enfraquecesse os sindicatos e desregulamentasse normas de controle público”.

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