Zé Kéti, o sambista, faria 100 anos em 2021 e já começam as comemorações. Fui conferir e está lá —de nome verdadeiro José Flores de Jesus, nascido em 16 de setembro de 1921. Ainda um pouco longe para o centenário, mas Zé Kéti não deveria precisar de efemérides para ser comemorado.
E não apenas porque é o autor de um dos maiores sambas de todos os tempos: “A Voz do Morro”, de 1954. Você sabe: “Eu sou o samba/ A voz do morro sou eu mesmo, sim, senhor/ Quero mostrar ao mundo que tenho valor/ Eu sou o rei dos terreiros...”. Foi lançado naquele ano por Jorge Goulart, e quem melhor do que Jorge, com seus plenos pulmões, para dar a “A Voz do Morro” o volume e alcance que aquelas frases longas mereciam?
Todos os grandes sambas de Zé Kéti, sozinho ou com parceiros, contam uma história do morro: “Malvadeza Durão”, “Nega Dina”, “Diz Que Fui Por Aí”, “Acender as Velas”, “Samba da Legalidade”, “Cicatriz”, “Mascarada” e, claro, “Opinião” —“Podem me prender, podem me bater/ Podem até deixar-me sem comer/ Que eu não mudo de opinião/ Daqui do morro eu não saio, não...”, que Nara Leão, em 1964, elevou a status de quase hino. Não sei se Zé Kéti morou algum dia num morro, mas, e daí? Dorival Caymmi não sabia nadar e ninguém falou do mar como ele. Artista é isso.
Em 1968, posso garantir que Zé Kéti não morava no morro —porque éramos vizinhos no lendário Solar da Fossa, um ex-convento colonial em Botafogo, habitado por estudantes, atores, músicos, jornalistas, todos românticos, boêmios e duros. Os quartos eram pequenos e o que se passava em um deles era escutado por todo mundo em volta.
Zé Kéti morava no quarto em cima do meu. E, se já era seu fã pela música, fiquei mais ainda ao ouvir suas performances a dois —de 6 da tarde às 6 da manhã, incansável, non stop, todas as noites e também a plenos pulmões. A voz do Solar era ele mesmo, sim, senhor.
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