O encerramento das atividades de uma grande empresa é necessariamente doloroso. Milhares de trabalhadores perdem seus empregos, e consumidores, seus produtos. O impacto se espalha, por vezes de modo terminal, entre fornecedores, investidores, credores, comércios e regiões adjacentes.
Tratando-se de uma companhia como a Ford brasileira, o evento ganha dimensões simbólicas e políticas. Uma das marcas principais da industrialização do país anunciou na segunda-feira (11) o fechamento de suas fábricas, e governos do presente e do passado têm sua responsabilidade escrutinada.
A experiência demonstra, entretanto, que intervenções do Estado destinadas a prolongar a longevidade de negócios resultam em mazelas ainda mais graves e duradouras. O setor automobilístico, aliás, também simboliza distorções da industrialização nacional.
A decisão da Ford decerto encontra motivos na estratégia particular da empresa, na situação de seu ramo de atividade, na conjuntura econômica e na condição estrutural do país —e governos, como norma geral, só deveriam interferir em favor das duas últimas.
Em fevereiro de 2019, a montadora já anunciara o fechamento da fábrica de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Àquela altura estava claro que transformações profundas se aproximavam.
O setor como um todo se adapta a novas circunstâncias do mercado global —de mudanças nos hábitos dos consumidores às pressões por veículos não poluentes, passando pela ascensão dos aplicativos de transporte individual.
Desde períodos anteriores, de todo modo, está fadada à exaustão a política brasileira de subsídios e proteção à indústria, que resulta em produtos caros e custos para o erário. Hoje vigora o programa Rota 2030, de 2018, que substituiu o Inovar-Auto, considerado parcialmente ilegal pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
Aqui e agora, o governo de Jair Bolsonaro não deve fazer nada pela Ford ou outras empresas em particular. Tem pela frente, isso sim, enormes tarefas, até o momento negligenciadas, para a recuperação da atividade, a proteção da população mais vulnerável e a melhora do ambiente de negócios do país.
Vacinação, ampliação do Bolsa Família, abertura a importações, privatizações, reformas administrativa e tributária —há muito a fazer para evitar que o Brasil testemunhe mais desinvestimento.
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