Notas & Informações, O Estado de S.Paulo
17 de janeiro de 2021 | 03h00
O ano de 2020 não foi apenas marcado pela pandemia de covid-19, afirma o Adaptation Gap Report 2020, produzido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Foi o ano recordista de temperaturas e de crescente impacto das mudanças climáticas, com enchentes, secas, tempestades, incêndios e pragas de gafanhotos.
O relatório afirma que não se trata apenas de uma situação momentânea ruim. O mundo continua caminhando para gerar um aumento de temperatura de pelo menos 3°C ainda no século 21, o que deverá aumentar ainda mais os impactos negativos. “As mudanças climáticas se intensificarão e atingirão os países e comunidades vulneráveis com mais força, mesmo cumprindo as metas do Acordo de Paris”, diz Inger Andersen, diretora executiva do Pnuma.
Para atingir os objetivos do Acordo de Paris, mantendo o aquecimento global abaixo de 2°C, é essencial uma forte ação para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Para tanto, os países precisam agir para se adaptar às mudanças climáticas. A passividade cobrará um alto preço, com danos em muitas áreas.
A adaptação às mudanças climáticas exige planejamento, implantação de medidas de proteção e sistemas de informação e de alerta preventivo, bem como novos investimentos. Assim, ao mesmo tempo que destaca a gravidade da situação atual, o Pnuma afirma que é possível reduzir as vulnerabilidades de cada país. O caminho é desenvolver um plano de adaptação, capaz de aumentar a capacidade e a resiliência de cada localidade. É um equívoco achar que a mudança climática é um problema tão grande que não se pode fazer nada a respeito.
Segundo o relatório, várias ações estão em andamento. Por exemplo, 72% dos países adotaram ao menos um instrumento de planejamento nacional relativo à adaptação, como um plano, uma estratégia, uma política ou uma lei. Ainda que não haja um consenso a respeito de como medir a eficácia dos planos de adaptação, a comunidade internacional destaca seis qualidades que essas medidas devem ter: exaustividade, caráter inclusivo, aplicabilidade, integração, supervisão e avaliação.
Também é consenso a necessidade de aumentar os valores investidos na adaptação à mudança climática, seja porque são insuficientes, seja porque os custos deverão crescer ainda mais. Estima-se que os países em desenvolvimento precisam hoje de US$ 70 bilhões para implementar as ações de adaptação, e que esse valor poderá mais que dobrar até 2030. Há cálculos indicando que, em 2050, os custos relativos às ações de adaptação devem alcançar US$ 500 bilhões.
O Pnuma relata que os benefícios de investir na adaptação são em geral superiores aos custos. Por exemplo, um estudo estimou que um investimento de US$ 1,8 bilhão em sistemas de alerta preventivo, infraestrutura resistente ao clima, melhoria da agricultura em zonas áridas e proteção dos mangues poderá gerar US$ 7,1 bilhões em danos evitados e benefícios ambientais e sociais alcançados.
Segundo o relatório, as chamadas “soluções baseadas na natureza”, de menor custo, podem contribuir consideravelmente para a adaptação à mudança climática, além de gerar benefícios significativos à economia, em especial oferecendo meios de subsistência a mulheres, grupos marginalizados e pessoas em situação de pobreza. No entanto, faltam planos concretos para essas ações. Os financiamentos para essa modalidade de ação estão aumentando, mas ainda são pequenos.
Como conclusão, o relatório afirma que, na última década, houve significativo aumento da participação dos países a respeito na adaptação às mudanças climáticas, mas é preciso fazer muito mais. Uma preocupação é o aumento dos custos das medidas de adaptação, o que poderá inviabilizar as ações em países subdesenvolvidos.
O Pnuma reconhece as limitações fiscais dos países motivadas pela pandemia de covid-19, mas reforça que investir na adaptação às mudanças climáticas continua sendo uma boa decisão econômica. Seja qual for o desafio, está claro que o negacionismo só agrava o problema.
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