A disputa política no Brasil envolve distintos cabos de guerra sob a névoa do conceito da “polarização”. “Nem toda briga é boa, mas nem toda briga é boba”, dizia o poeta.
Há o perverso Cabo de Guerra da Máquina Pública, que opõe grupos sedentos por uma boquinha do Estado. Esse cabo é de soma negativa, ao menos do ponto de vista do cidadão e contribuinte. Seus impostos se acumulam em um volumoso saco de ouro no centro do cabo; leva o prêmio quem tiver maior poderio político.
Nas extremidades, fazem força as facções opostas que disputam poderosas canetas que liberam verbas, empregam aliados, determinam políticas públicas, baixam decretos e portarias. Objetivam o poder como um fim, e sua existência deriva do excessivo poder do Estado.
Esse cabo de guerra se intensifica toda vez que há troca do grupo político no comando. Depois do aparelhamento da máquina promovido pelos governos do PT, agora grupos que apoiaram Jair Bolsonaro, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre e companhia cobram os cargos e verbas pactuados.
Em menor ou maior grau, vale sempre a lógica do infame “toma-lá-dá-cá”, uma inevitabilidade do meio político que alguns creem ser possível dispensar. Enquanto o cidadão for condenado a prover o saco de ouro no centro do cabo, permanecerá desprezado. Salvo, claro, em ano de eleições, quando os animais do gabinete saem de seu habitat para visitar as comunidades.
No andar de cima há justamente o Cabo de Guerra do Voto, da disputa pelo comando máximo, a caneta das canetas. Nas extremidades, partidos e facções políticas antagônicos; esquerda, centro-esquerda, centro-direita e direita. Nesse cabo tem Ciro versus Lula, tem presidente versus governadores do Rio e de São Paulo...
É um cabo de guerra feroz e por vezes regado a xingamentos ou quebra de regras. O evento da retroescavadeira em Sobral colocou a família de coronéis que controla o Ceará contra um deputado que quer ser prefeito de Fortaleza aliado a um grupo de policiais amotinados.
O cabo de guerra mais relevante para os brasileiros que desejam um Brasil melhor é o das ideias, que contrapõe as atribuições do Estado, de um lado, às da sociedade e do indivíduo, de outro. Esse é disputado principalmente nas páginas da imprensa livre, na academia e nas redes sociais, mas também nas manifestações livres de artistas e cientistas, nas rodas familiares e de amigos.
A esquerda foi pega de surpresa nesse cabo de guerra nos últimos dez anos. Marxistas e sociais-democratas antagonizavam e perderam-se nas disputas pela máquina e pelo voto.
A chegada das ideias liberais ao centro do debate é resultado da prática do zen na arte do cabo de guerra. Com calma e tranquilidade após anos de reflexões, tomamos a corda pela beirada e colocamos marxistas e sociais-democratas juntos do outro lado.
Em nossa extremidade entraram os anarcocapitalistas e sua base consistente do laissez-faire, a utopia da liberdade. Em seguida os minarquistas, defensores do caminho ao Estado mínimo. No meio da corda fazem força os neoliberais e chicaguistas. Próximos ao outro lado da corda —onde transpira em bicas a esquerda— estão os left-libs, liberais que priorizam a pauta dos costumes em detrimento da econômica.
Juntos, nos esforçamos para reduzir a excessiva intrusão do Estado porque entendemos ser esse o caminho sustentável para a geração de riqueza, a diminuição da pobreza, a melhoria do ensino, a solução das questões sociais e ambientais. Um Estado menor tem por consequência um indivíduo mais responsável e uma sociedade mais forte.
Esse cabo de guerra faz bem ao Brasil.
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