Conjuntura política excepcionalíssima permitiu que ele chegasse à Presidência
O presidente Jair Bolsonaro gosta de apresentar-se como um político antissistema, mas isso é "fake news". Parece mais preciso descrevê-lo como uma das piores coisas que o sistema já produziu.
Com efeito, Jair Bolsonaro não é uma flutuação quântica que se materializou do nada. Ele passou quase três décadas na Câmara, onde teve atuação apagadíssima. Apenas dois projetos de lei de sua autoria foram aprovados —média de um a cada 14 anos. Ainda que inevitáveis —não dá para pôr meta de produtividade para parlamentares—, situações como essa não configuram uma das virtudes do sistema.
E é interessante reparar que Bolsonaro só chegou ao Parlamento devido a outras vulnerabilidades do sistema. Depois de ter sido quase expulso do Exército, conseguiu, graças à votação proporcional, eleger-se para postos no Legislativo defendendo a pauta corporativista das carreiras militares. Mais tarde, ampliou seu eleitorado, agregando os votos de cidadãos que, por motivos variados, aplaudiam sua incontinência verbal e agressões calculadas.
Arrastou três filhos para a política e há indícios de que a família não só se envolveu com a pior criminalidade, que é a dos milicianos, como também de que explorou esquemas típicos do baixo clero parlamentar, como "rachadinhas" e funcionários-fantasmas. Não é, portanto, por fibra moral que Bolsonaro não apareceu nos grandes escândalos de corrupção. Falta de oportunidade/inventividade parecem explicações mais plausíveis.
Uma conjuntura política excepcionalíssima impulsionada por um atentado permitiu que uma figura assim medíocre chegasse à Presidência, onde não decepcionou. Praticamente todas as suas manifestações revelam que ele não está à altura do cargo. Sua falta de decoro já não se consubstancializa só no nível escatológico, quando ataca desafetos, mas também no institucional, quando incita seus simpatizantes contra outros Poderes.
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