Com o fim da cadeia compositor-cantor, a música passou a nascer e morrer com seu autor
Há algumas semanas, o Ecad, que regula os direitos autorais dos compositores, divulgou a lista das dez músicas brasileiras mais gravadas de todos os tempos, no Brasil e no Exterior.
Em 1º lugar, ficou “Aquarela do Brasil” (1939), de Ary Barroso, com 399 gravações. Em 2º, “Carinhoso” (1928-37), de Pixinguinha e João de Barro, com 389. Em 3º, “Garota de Ipanema” (1962), de Tom e Vinicius, com 376. Em 4º, “Asa Branca” (1947), de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga, 304. Em 5º, “Manhã de Carnaval” (1958), de Luiz Bonfá e Antonio Maria, 276. Em 6º, “Eu Sei Que Vou Te Amar“ (1956), de Tom e Vinicius, 257. Em 7º, “Wave” (1967), só de Tom, 238. Em 8º, “Corcovado” (1960), também só de Tom, 228. Em 9º, “Chega de Saudade” (1958), idem, Tom e Vinicius, 228. E, em 10º, “Desafinado”, de Tom e Newton Mendonça, 216.
Seis canções de Tom, sozinho ou com parceiros, entre as dez mais, não surpreende —afinal, são 65 anos de presença no mercado, daqui e de fora. Mas por que os dois primeiros lugares couberam a “Aquarela do Brasil” e “Carinhoso”? Porque, além de pertencerem à alma nacional, são também as mais antigas da lista, com mais tempo —81 e 84 anos, respectivamente— ao alcance de quem quisesse gravá-las. E que bom que tantos quiseram.
É o que explica também que a mais nova, “Wave”, já tenha 53 anos. Até então, a indústria fonográfica obedecia a uma cadeia em que, criadas pelos compositores e letristas, as músicas iam para os cantores. Estes as lançavam e, se elas pegassem, eram gravadas por outros cantores e, daí, por orquestras de dança, grupos menores, trios, solistas etc. etc. Muitas músicas faziam carreira e se eternizavam.
A partir dos anos 80, isso acabou. Os grupos ou cantores passaram a compor suas próprias músicas. E, como nenhum deles canta a música dos outros, cada música nasce e morre com seu criador. Na maioria das vezes, já morre tarde.
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