As imagens do prédio, com sua placa vermelha e branca características do logotipo da Odebrecht, ficaram marcadas umbilicalmente à Operação Lava Jato
Agência Estado, O Estado de S.Paulo
23 de fevereiro de 2020 | 17h30
O prédio da sede da Odebrecht, que virou um monumento símbolo de corrupção, mudou seu nome para Pinheiros One. A nova marca, adotada desde ontem pelos novos proprietários do edifício, a SDI Gestão e Barzel Properties, que adquiriram o Edifício Odebrecht São Paulo (EOSP) em maio, começou a ser exibida em frente ao prédio, que fica localizado numa região de alto tráfego de veículos, próximo a Marginal Pinheiros, em São Paulo. Os novos donos desejam atrair novos inquilinos ao prédio em convivência com algumas das empresas do grupo. A mudança de marca foi noticiada pelo jornal 'O Globo'.
As imagens do prédio, com sua placa vermelha e branca características do logotipo da Odebrecht, ficaram marcadas umbilicalmente à Operação Lava Jato e correram o mundo afora ao revelar um intrincado esquema de fraude, formação de caixa 2, lavagem de dinheiro, entre outros delitos. Nos 25 andares do prédio, uma maioria dos 77 delatores trabalhava, incluindo o presidente do grupo, Marcelo Odebrecht, preso em 2015 e hoje em prisão domiciliar. Conheça um pouco da história do prédio-símbolo da Lava Jato:
Projeto
Idealizado na primeira década deste século, o prédio era um desejo de Marcelo Odebrecht de reunir todos os 15 negócios do grupo em um único espaço. Foi escolhida uma área do Butantã - mais barata que os espaços disponíveis da Faria Lima - e que tinha o objetivo de revitalizar a região, tradicional ponto de prostituição. No fim de 2013, as empresas do grupo se começaram a mudança para o prédio de 25 andares, 58 mil metros quadrados de área construída e paredes externas com jardins verticais. O projeto, de autoria do escritório de arquitetura Aflalo & Gasperini, concebeu um restaurante e uma praça ao céu aberto no sexto andar, ponto de convivência dos funcionários. No auge, mais de 10 mil pessoas circulavam diariamente pelo prédio. Existe ali um teatro para 200 pessoas, que seria aberto ao público, mas a Odebrecht nunca o fez.
Invasão
Na sequência da insurgência dos movimentos sociais de 2013, durante o governo Dilma Rousseff, a sede da Odebrecht foi alvo de uma invasão de 300 trabalhadores do Movimento Sem Terra (MST) e do Movimento dos Trabalhadores sem-teto (MTST). O ato, que também ocorreu de forma coordenada nas sedes das construtoras OAS e Andrade Gutierrez, aconteceu um mês antes do início da Copa do Mundo no Brasil. Em protestos aos gastos elevados com as obras e no início da recessão econômica, eles picharam a fachada, jogaram bexigas com tinta vermelha nas paredes e vidros e escreveram palavras críticas na recepção do prédio contra a empreiteira, responsável pela construção e reforma de quatro arenas para o torneio de futebol, entre elas o Maracanã e o Itaquerão, estádio do Corinthians. Quando as investigações da Lava Jato vieram à tona, descobriu-se o esquema de corrupção da empreiteira em relação às arenas.
Lava Jato
Os investigadores da Operação Lava Jato já estavam nas ruas desde março de 2014, mas a visita ao prédio pela Polícia Federal, que já esperada pelos próprios executivos da Odebrecht, aconteceu nas primeiras horas da sexta-feira, dia 19 de junho de 2015. Com veículos estacionados na frente, os policiais federais levaram 16 horas no processo de busca e apreensão de documentos que foram analisados pelos investigadores da Lava Jato em Curitiba. O prédio também ficou sendo símbolo da corrupção. Motoristas passavam pela frente do edifício gritando palavras como "corruptos". Aos poucos, os funcionários se acostumaram com a presença da PF no prédio e conviviam com eles nas áreas comuns, como o refeitório. Foram necessárias ainda duas novas operações de busca e apreensão - no início de 2016 - para que a Odebrecht decidisse colaborar com a Justiça. Nessas ações, executivos da Odebrecht solicitavam que os carros da PF fossem estacionados dentro da garagem do prédio para não chamar a atenção das pessoas que ali circulavam.
Crise
Com a crise financeira da Odebrecht, que hoje negocia com bancos credores uma saída para sua dívida de R$ 98,5 bilhões, o custo para administrar o prédio ficou cada vez mais alto. Em maio, para reduzir R$ 500 milhões em dívidas, conforme antecipado pelo Broadcast, a Odebrecht negociou a venda do prédio para um consórcio liderado pela SDI Gestão, que também constrói no terreno vizinho uma torre multiuso ainda maior, de 35 andares, onde funcionava a antiga sede da Johnson & Johnson, que foi demolida. Atualmente, no prédio da Odebrecht, paira um ar de incerteza sobre o futuro o grupo. Com o fim de alguns dos negócios da Odebrecht e milhares de demissões de funcionários, alguns andares passaram a ficar desocupados. O outrora poderoso 15º andar, onde ficavam instalados Marcelo Odebrecht e toda a cúpula do grupo no seu auge, virou sala de reuniões para as demais empresas. Com o esvaziamento, as vagas dos cinco andares de garagem também ficaram mais fáceis de serem ocupadas. Apesar de toda a crise, o que poucos sabem é que o prédio ainda conserva um lava jato no quinto andar da garagem, que lava à seco os carros dos funcionários remanescentes.
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