O cérebro do adolescente é mais vulnerável às drogas que o do adulto
O primeiro porre foi aos 13 anos, e depois vieram a maconha, a cocaína e várias outras drogas —diariamente e em quantidades industriais. Abandonou a escola, afastou-se da família e viveu nas ruas.
Essa é a história de Judith Grisel. Como 90% das pessoas com um currículo semelhante, ela poderia ter se dado mal, isto é, não ter conseguido manter-se longe de drogas por períodos significativos e ter morrido precocemente.
A história de Grisel, contudo, não é típica. Aos 23, ela largou as drogas, retomou os estudos e se tornou neurocientista, especializando-se em dependência química. Após décadas de sobriedade e uma bela carreira acadêmica, publicou "Never Enough" (nunca é o bastante), uma interessante combinação de livro de memórias e de ciência.
A mensagem de Grisel para os que sonham com um tratamento eficaz contra o vício não é das mais otimistas, já que, para ela, a dependência é apenas o resultado do funcionamento normal do cérebro. O conceito-chave é o de homeostase. O cérebro responde a estímulos ambientais desencadeando processos que visam ao equilíbrio. Se uma substância que nos deixa muito excitados é introduzida, o cérebro liberará neurotransmissores que derrubam essa excitação.
O processo compensatório tende a ser mais robusto que o estímulo, de modo que são necessárias doses cada vez maiores para obter o mesmo efeito da droga (tolerância). Pior, se a dose não vem, o corpo sente os efeitos desagradáveis provocados pelo processo compensatório (abstinência). E, como o cérebro é essencialmente um órgão antecipatório, bastam pequenos sinais associados ao uso da droga para produzir a fissura (craving).
O que faz com que algumas pessoas se tornem dependentes e outras não é um complexo "blend" de predisposições genéticas e fatores ambientais, com destaque para a exposição precoce. O cérebro de adolescentes é bem mais vulnerável que o de adultos.
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