Proposta para que enfermeiros do SUS realizem consultas e prescrevam drogas tem resistência de conselhos médicos
Gostei da proposta do Ministério da Saúde de ampliar as situações nas quais enfermeiros do SUS possam realizar consultas, solicitar exames e prescrever drogas. Embora a iniciativa esteja em tese amparada por leis federais, ela encontra forte resistência dos conselhos médicos, que entendem esses atos como exclusivos da classe.
Passo ao largo da discussão jurídica e me atenho ao aspecto logístico do sistema público de saúde. Diante das dificuldades orçamentárias do Estado brasileiro e das pressões demográficas, o SUS terá de tornar-se mais produtivo. Isso significa confiar cada vez mais no poder dos algoritmos para atender a parcelas crescentes da população.
É preciso desenvolver bons protocolos, que possam ser aplicados por profissionais da saúde que não o médico, mas que identifiquem rapidamente os casos que fujam ao padrão e os encaminhem ao clínico geral ou ao especialista. Vale observar que mesmo países mais ricos que o Brasil e nos quais a transição demográfica foi mais suave, como o Canadá e o Reino Unido, já utilizam há tempos essa estratégia.
O problema de fundo é que a formação do médico é proibitivamente cara. No Brasil, são seis anos de graduação em regime integral em cursos que exigem, além de aulas expositivas, laboratórios, cadáveres, simuladores etc. O custo de uma graduação em medicina excede facilmente os R$ 500 mil. Depois, são mais dois anos de residência. Uma especialização pode requerer dois ou três anos adicionais. Não faz muito sentido pôr um profissional desse gabarito para desempenhar tarefas repetitivas, que em breve talvez sejam delegadas a computadores, sem nenhum tipo de intervenção humana.
Entendo a ansiedade dos médicos em ver outros profissionais se apropriando de tarefas que antes eram atribuição exclusiva da categoria, mas o corporativismo tem limites. A alternativa é encarecer ainda mais o sistema e/ou excluir mais pacientes em filas impossíveis.
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