Bolsonaro busca pretexto para repressão e fica confortável em ameaças à democracia
BRASÍLIA
O desembaraço com que Paulo Guedes menciona o risco de um novo AI-5 é a tradução fiel de um projeto que se abastece diariamente de sonhos autoritários. Em busca de pretextos para aplicar uma agenda de repressão, o governo vai ficando cada vez mais confortável para ameaçar os princípios da democracia.
O ministro da Economia seguiu a moda lançada por Jair Bolsonaro e passou a trabalhar com protestos hipotéticos e vândalos presumidos. Em viagem aos EUA, ele disse que não seria surpresa se houvesse cobrança por medidas de arbitrário em caso de manifestações contra o governo.
“Quando o outro lado ganha, com dez meses você já chama todo mundo para quebrar a rua? Que responsabilidade é essa? Não se assustem, então, se alguém pedir o AI-5. Já não aconteceu uma vez?”, declarou.
A indignação de Guedes tinha endereço certo. O governo freou parte de sua agenda de reformas econômicas depois que o ex-presidente Lula deixou a prisão e passou a atacar essa pauta para mobilizar suas bases políticas. O petista não exortou militantes a agirem com violência, mas citou manifestações no Chile como exemplos de que o povo deve defender seus interesses.
O ministro sugeriu que as falas sobre um novo AI-5, inauguradas por Eduardo Bolsonaro, eram uma resposta ao tom usado por Lula depois de sair da prisão. Só se o filho do presidente fosse vidente: o petista foi solto oito dias depois da declaração de Eduardo sobre o assunto.
O governo rasga, a cada hora, um novo pedaço de uma fantasia já retalhada. Está inscrito na pele desse grupo o desejo de recorrer a medidas autoritárias para responder a qualquer obstáculo do jogo democrático.
Há alguns dias, Delfim Netto, ministro da ditadura militar, disse ao jornal O Estado de S. Paulo que o governo tem um lado sombrio e outro iluminado. O segundo seria a equipe econômica. Quem quiser fechar os olhos para os abusos do governo em nome da agenda de Guedes agora sabe que a escuridão é o ambiente predominante por ali.
Bolsonaro insiste na ideia de dar superpoderes às Forças Armadas para reprimir protestos. Quando era candidato, ele chegou a apoiar as manifestações de caminhoneiros que pararam o país em 2018. Alguns pregavam um golpe de Estado e bloqueavam estradas. Houve casos de violência entre motoristas.
Os militares foram chamados, mas não para atirar. Serviram de choferes de luxo e só manobraram as carretas que impediam o trânsito.
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