Caros,
O Rio Taquari, um dos mais importantes do centro-oeste brasileiro, afluente do rio Paraguai, é um dos principais formadores do Pantanal. Em seu curso alto corre por planaltos arenosos, com imensos problemas de erosão, para, finalmente, descansar nas planícies suaves da região pantaneira e finalmente desembocar no rio Paraguai. Esse rio e sua bacia hidrográfica tem sido muito estudados por força das perturbações que vem sofrendo e causando com fenômenos de erosão e assoreamento, vítima que tem sido do mau manejo agrícola e pecuário das terras de sua bacia.
Pois bem, como tão bem disse Freud "Aonde quer que eu vá, eu descubro que um poeta esteve lá antes de mim”, os estudiosos dedicados ao estudo do Taquari encontraram em uma poesia do Manoel de Barros, “Um rio desbocado” (vejam a seguir), a mais preciosa descrição de sua dinâmica fluvial. Um retrato exato do comportamento desse rio. Ponto para os poetas.
Álvaro
UM RIO DESBOCADO (Manoel de Barros)
Definitivo, cabal, nunca há de ser este rio Taquari. Cheio de furos pelos lados, torneiral, ele derrama e destramela à-toa.
Só com uma tromba d'água se engravida. E empacha. Estoura. Arromba. Carrega barrancos. Cria bocas enormes. Vaza por elas. Cava e recava novos leitos. E destampa adoidado...
Cavalo que desembesta. Se empolga. Escouceia árdego de sol e cio. Esfrega o rosto na escória. E invade, em estendal imprevisível, as terras do pantanal.
Depois se espraia amoroso, libidinoso animal de água, abraçando e cheirando a terra fêmea.
Agora madura nos campos sossegado. Está sesteando debaixo das árvores. Se entorna preguiçosamente e inventa novas margens. Por várzeas e boqueirões passeia marinheiro. Erra pelos cerrados. Prefere os deslimites do vago, o campinal dos lobinhos.
E vai empurrando através dos corixos, baias e largos, suas águas vadias. Estanca por vezes nos currais e pomares de algumas fazendas. Descansa uns dias debaixo das pimenteiras, dos landis, dos guanandis, que agradecem.
De tarde, à sombra dos cambarás, pacus comem frutas.
Meninos pescam das varandas da casa.
Com pouco, esse rio se entedia de tanta planura, de tanta lonjura, de tanta grandura, e volta para sua caixa. Deu força para as raízes.
Alargou, aprofundou alguns braços ressecos. Enxertou suas areias. Fez brotar sua flora. Alegrou sua fauna. Mas deixou no pantanal um pouco de seus peixes.
E empenhou de seu limo, seus lanhos, seus húmus, no solo do pantanal.
Faz isso todos os anos, como se fosse uma obrigação.
Tão necessário, pelo que tem de fecundante e renovador, esse rio Taquari, desbocado e mal comportado, é temido também pelos seus ribeirinhos.
Pois, se livra das pragas os nossos campos, também leva parte de nossos rebanhos.
Este é um rio cujos estragos compõem.
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