Governador difere do estilo de Geraldo Alckmin e delega relacionamento com representantes do interior a secretário
Adriana Ferraz, Bruno Ribeir e Vinícius Passarelli, O Estado de S.Paulo
10 de novembro de 2019 | 05h00
Há dois anos, o então governador Geraldo Alckmin (PSDB) cortava bolo para comemorar a marca de ter visitado as 645 cidades de São Paulo durante o mandato. De estilo municipalista, ele praticava a política corpo a corpo, especialmente com aliados do interior, que visitava e recebia com frequência. Foi assim nos 13 anos em que esteve à frente do Estado. Não é mais. Com a chegada do também tucano João Doria ao governo, os tradicionais cafezinhos no Palácio dos Bandeirantes foram cortados, assim como as selfies. E bem às vésperas de um ano de eleição municipal.
O novo estilo segue compromisso assumido pelo atual governador no dia da posse: “Não vamos fazer romaria para cafezinho, chá. Não quero fulanizar, mas a partir de agora vai mudar”. Mudou mesmo. De janeiro pra cá, Doria recebeu apenas cinco prefeitos do interior em seu gabinete. E, quando tem evento em alguma cidade, não fica papeando depois, como Alckmin fazia. O tête-à-tête agora, segundo aliados, é ‘virtual’.
“O governador manda fotos, vídeos. Tudo pelo WhatsApp, para prefeitos que pedem. Também liga para todos eles no dia do aniversário. O contato existe, é próximo, só não é feito como antes”, contou o secretário de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi, que, na reestruturação das pastas, ficou com a função de fazer a ligação do Palácio dos Bandeirantes com as prefeituras. É no gabinete dele, e não mais no do governador, que os chefes do Executivo municipal despacham. “Por dia, recebo pelo menos três prefeitos”, afirmou.
Na sexta-feira passada, Pedro Franco (MDB), de Engenheiro Coelho, foi um dos visitantes. “Acho que a relação até melhorou assim. Com o secretário temos a chance de expor mais detalhadamente os problemas e tentar uma solução. Agora, do ponto de vista eleitoral, aí o contato com o governador faz diferença. O eleitor sente mais segurança quando percebe que há uma proximidade, ainda mais quando o prefeito é de outro partido”, disse.
O prefeito de Conchal, Luiz Vanderlei Magnusson (PSDB), também elogiou a recriação da secretaria que cuida do interior. “Tem dado muito certo. Para mim, o importante não é o cafezinho, mas a liberação dos recursos que o município precisa. As cidades são o braço do Estado, precisam e têm direito a esses convênios”, afirmou. Mas, ano que vem, quando estiver em campanha pela reeleição, o tucano não tem dúvida: “Aí vou querer a foto do governador no santinho”.
Doria esteve em Conchal em março, para a entrega de obras de duplicação nas rodovias Professor Zeferino Vaz (SP-332) e Engenheiro João Tosello (SP-147). “Duas obras importantes que irão ajudar no escoamento da produção regional, além de ampliar o conforto e a segurança para os motoristas”, disse, na época.
O PSDB comanda atualmente 207 municípios paulistas. Saltinho está nessa lista. A cidade da região metropolitana de Piracicaba foi a que deu a Doria a maior votação proporcional na eleição passada – 78%. O governador, no entanto, ainda não passou por lá. Segundo levantamento feito pelo Estado, o tucano visitou 36 municípios no interior até agora. Adicionando litoral e Grande São Paulo, foram 51 cidades.
O governador esteve também com prefeitos de outros Estados, como os de Belém (PA), Criciúma (SC), Curitiba (PR) e Vila Velha (ES). Segundo Vinholi, Doria participou também de ao menos outros 17 eventos com participação de prefeitos no Palácio. Na agenda oficial do tucano consta uma reunião com o prefeito de Miami no dia 13 de agosto. Cotado para concorrer à Presidência em 2022, Doria tem privilegiado viagens a Brasília, onde já esteve 12 vezes neste ano, e ao exterior. Já visitou Japão, EUA, Suíça, China e Alemanha, totalizando 21 dias fora do País.
Estilo
Para Carlos Alberto Cruz Filho, presidente da Associação Paulista de Municípios, não houve mudança ideológica, mas uma alteração de estilo. “Alckmin tinha uma postura de ‘política, faço eu’. O estilo do Doria é outro: ele delega para os secretários. O prefeito fala com o Vinholi, que tem autonomia no governo, transversalidade. Essa quebra de paradigma provoca incompreensões, e Doria está cuidando de se fazer entender. Mas o governador não está no tempo do prefeito. No ano que vem, ele deve ter oxigênio”, disse.
Vinholi, presidente do PSDB em São Paulo, diz que os prefeitos terão todo o apoio do governador ano que vem, mas não acredita que o estilo de Doria vá mudar. O partido projeta disputar o comando de 300 municípios paulistas. Em metade deles, com mulheres. / COLABOROU FERNANDA BOLDRIN
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