Bolsonaro assustaria até Jackson de Figueiredo, que queria a volta da Idade Média
Jackson de Figueiredo (1891-1928), ideólogo e líder da direita católica no Brasil dos anos 20, pregava a autoridade civil, a hierarquia militar e a luta contra a "anarquia" na política, na religião e na arte. Era nacionalista hidrófobo e queria a volta à Idade Média, que considerava época "de paz, equilíbrio e sabedoria".
Jackson se dizia "um humilde soldado da fé" e "escritor que abdicara de seu individualismo intelectual nas mãos amantíssimas da Igreja". Mas, por trás da humildade em mãos amantíssimas, havia um centurião romano, um soldado mongol, que assustava até a alta hierarquia da igreja. Um de seus motes era: "Prefiro, como homem, como caráter, um materialista convicto a um católico de meia-cara".
Jackson foi contra o levante do Forte de Copacabana em 1922, combateu os revolucionários de 1924 em São Paulo e, quando estes foram derrotados, chefiou a censura do presidente Arthur Bernardes. A direita intelectual católica de seu tempo o admirava: Alceu Amoroso Lima, Gustavo Corção, Sobral Pinto, Augusto Frederico Schmidt, Menotti del Picchia, Plinio Salgado, Mario de Andrade.
Mas quem se julgasse capaz de adivinhar a posição de Jackson sobre qualquer assunto estaria sujeito a erro. Ele podia ser surpreendente. Fanático da disciplina militar, por exemplo, via nela um limite: "O militar que se fez político, que é político, não tem, em regra, nenhuma superioridade sobre os demais políticos. Pelo contrário: no entrechoque das paixões que se fazem no seu novo meio, raro é o que guarda serenidade, raro o que não descamba para tiranete de maus bofes, raro o que não se faz, em pouco tempo, um inimigo público".
Parecia estar falando, com quase cem anos de antecedência, do general-ministro Augusto Heleno, com sua visão receptiva a uma reprise do AI-5, ou, como se o tivesse adivinhado por inteiro, do próprio ex-capitão Jair Bolsonaro.
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